Era uma vez um homem, humilde e paupérrimo, que cultivava uma pequena plantação de favas na beira do rio. Na época da colheita porém, não conseguia levar uma sequer, para casa. Elas tomavam chá de sumiço, da noite pro dia . Intrigado, ele resolveu ficar à espreita e descobrir quem as surripiava. Certo dia, flagrou uma moça muito bonita no faval, colhendo-as. Sutilmente, firme e devagarinho, agarrou-a pelo braço. Ah! Então, é você quem vem aqui apanhar minhas favas? Você agora vai é para minha casa e casar comigo. Me solta , me solta , que eu não apanho mais as suas favas, não! O homem, irredutível, continuou segurando-a pelo braço. Está bem, eu me caso com você, mas nunca arrenegue as pessoas que vivem debaixo d’água. Assim, levou-a consigo e casaram-se. A partir de então, começou a ganhar muito dinheiro. Tudo quanto possuía, como por encanto, aumentou em quantidade, qualidade e tamanho: transformou o casebre numa morada-inteira (daquelas com porta central entre duas janelas) e depois, um belo sobrado; comprou escravos, teve muitas criações, roças, muitas plantações. Depois de passado algum tempo, a mulher foi ficando desmazelada. Parecia que, de propósito, não dava comida aos filhos, que viviam rotos e sujos.
O sobrado sempre desarrumado. Cheio de poeira. Ela, descalça, com vestidos esfarrapados e cabelos em desalinho, passava o dia todo dormindo. Os escravos, sem ter quem os mandasse, não cuidavam do serviço. Só viviam brigando uns com os outros. Sempre quando voltava da rua e punha os pés dentro de casa era aquela azucrinação em cima dele. Chega só lhe faltava enlouquecer. Um dia, não suportando mais a situação disse pra si de forma quase inaudível. Arrenego essa gente de debaixo d’água. Foi o suficiente. Ela ouviu. Ela era a mãe d’água e andava doida para voltar para o seu rio. E foi embora. Não vá embora não, mulher. Fica comigo, não me abandona. Foi mesmo que nada. Com ela também partiu tudo o que ele tinha: a casa, o sobrado, as plantações, o curral, o galinheiro. Entrando n’água, desapareceram todos.