A autorização da Anvisa para que o Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) importe sementes, germine e cultive diferentes cepas da cannabis foi comemorada pelos pesquisadores responsáveis pelos estudos.
Essa foi a primeira vez que a agência nacional autorizou uma instituição a cultivar a planta para fins científicos no país.
“É uma decisão histórica. Desde 2013, várias instituições têm tentado e fomos os primeiros a conseguir. Foram mais de cinco anos trabalhando em cima disso”, afirma o bioquímico Cláudio Queiroz, professor associado do Instituto do Cérebro, com 11 anos de atuação na instituição.
O processo com pedido de autorização na Anvisa foi aberto em janeiro de 2021. Entre as etapas, a UFRN recebeu uma visita técnica para avaliar a estrutura necessária para o estudo. A aprovação teve votação unânime.
Segundo o professor Cláudio Queiroz, a autorização concedida é para estudos pré-clínicos, ou seja, que não irão envolver testes com seres humanos. O objetivo dos pesquisadores é, inicialmente com uso de animais, avaliar o perfil de diferentes cannabinoides sobre doenças e transtornos que atingem os humanos, como epilepsia, depressão e autismo.
Segundo o pesquisador, as plantas de cannabis produzem um conjunto de compostos conhecidos como fitocanabinoides – moléculas que possuem capacidade farmacológica em diferentes tipos de células, como as do sistema nervoso.
“Serão avaliados diferentes fitocomplexos, os conjuntos de moléculas produzidos pelas diferentes cepas (tipos) de cannabis”, disse o professor.
Ainda de acordo com Claudio Queiroz, estudos clínicos já demonstraram segurança de um fitocanabinoide, o canabidiol. Porém, os mecanismos neurofisiológicos responsáveis pelos efeitos terapêuticos, ou seja, como ele age no sistema, ainda são desconhecidos.
A autorização para cultivo das plantas vai permitir a realização de pesquisa básica e testes sobre os efeitos desses fitocanabinoides, quando administrados isoladamente ou combinados, em modelos animais de epilepsia, autismo, entre outros, para avaliação da segurança e eficácia deles.
O grupo da UFRN que recebeu a autorização para o cultivo, coordenado pelo professor, conta com o trabalho direto de seis pesquisadores. Porém, as investigações realizadas na instituição deverão beneficiar diretamente as pesquisas pelo menos cinco grupos do próprio Instituto do Cérebro, que envolvem cerca de 30 pesquisadores.
O projeto apresentado pela UFRN apresenta medidas de segurança para realização dos estudos:
“A proposição em tela, no que tange ao cultivo indoor, visa permitir a geração de insumo em território nacional – produzido sobre rígidas condições de controle e de estrita utilização no âmbito da pesquisa científica, nos termos do exercício da atividade ordinária da Anvisa”, disse o relator do processo na Anvisa, Alex Campos, no voto favorável que foi seguido pelos demais diretores.
Fonte: G1RN
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