DEPOIS DA PANE ELÉTRICA –

Após um aperreio do tamanho do pau da bandeira, devido à pane elétrica ocorrida duas semanas atrás na instituição em que trabalho – o apagão se deu no exato momento em que eu escrevia a minha crônica semanal –, que me levou a imaginar haver perdido todos os rabiscos de pensamentos aleatórios, pude respirar aliviada quando, dia seguinte, de volta ao trabalho, liguei o meu computador e lá estavam, salvos, todos os rascunhos. Ufa!

Deixemos de conversa mole e vamos ao que interessa: arregaçar as mangas e meter bronca nos pensamentos, tentando resgatar as ideias que se apagaram junto com a pane elétrica. Dar play na crônica quase perdida.

Assistir filmes pela NETFLIX e plataformas do gênero é algo recente. Na época de minha adolescência, íamos as videolocadoras para alugar as fitas, muitas vezes piratas. Lembro bem, era um programa indispensável às sextas-feiras. Recordo ser possível alugar três filmes na sexta-feira e devolver na segunda, pagando apenas uma diária. Porém, para garantir a promoção, tinha-se a obrigação de entregar as fitas rebobinadas após o uso. Claro! Depois vieram os DVDs – tema para outra crônica.

Tenho retornado, aos poucos, a um dos meus hobbies favoritos que é debruçar-me diante da tela e mergulhar nos roteiros, personagens, diálogos, filmes que, assim como na música, não tenho gênero preferido. Escolho conforme meu estado de espírito no momento. Gosto desde filmes policiais a comédias, passo bem pelo entretenimento com vista a filmes que mexem com o psicológico. Gosto da diversidade, desde que não subestimem o meu senso crítico.

Por causa de uma segunda contaminação pela Covid-19, fiquei dez dias em isolamento social. O ócio me fez esparramar no sofá da sala e ligar a TV, acessar a NETFLIX e selecionar alguns títulos e distribuí-los para os dias de confinamento. Dentre algumas indicações estão: A Filha Perdida, Ataque dos Cães, Não Olhe para Cima, Mães Paralelas, Perfeitos Desconhecidos e outros dos quais não recordo neste instante. Deve ser resquícios do apagão!

Outros títulos foram escolhidos, aleatoriamente. Assisti drama, comédia, policial, terror, musical e romance, só não incluí na lista filmes ambientados no espaço nem no fundo do mar, quem me conhece sabe de minha fobia a tais ambientes. Assisti a quase nada de séries, porém uma me fez passar quase 24 horas no ar. Somente desliguei a TV e a mim depois de ver o último episódio da 1ª temporada de Desejo Sombrio, que vem latente com o tema que muito me instiga: as relações sentimentais.

Pois bem, andei descobrindo que sou a “filha perdida” das “mães paralelas”, que foge do “ataque dos cães” como o diabo foge da cruz, porque estamos todos carregados de “desejo sombrio”, tentando disfarçar nossas insensatezes quando nos dizem: “não olhe para cima”, botando para debaixo do tapete nossos segredos mais sombrios, tal “perfeitos desconhecidos”. Como bem diz o Salmo 22, do Antigo Testamento, do qual deriva o nome do filme Ataque dos Cães: “Livra a minha vida da espada, minha querida, do poder dos cães.”

 

 

 

 

Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência, [email protected]

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