Em artigos anteriores, abordei, a voo de pássaro, a história do surgimento da vida em nosso planeta. Lembro que o Homo sapiens sapiens (também chamado de pessoa, gente, homem) surgiu há aproximadamente 200 mil anos atrás, possivelmente na África. Em verdade, deveríamos falar que o que somos hoje é o resultado da intersecção de duas histórias paralelas: a história natural e a história social.
Daí porque a própria evolução deve ser repensada como uma co-evolução. Os Homo sapiens sapiens co-evoluímos em conjunto com as outras espécies, com o meio ambiente e com o cosmos. Ou seja, participamos de um sistema vivo complexo, aberto e em expansão. Voltemos ao começo.
Após a derrocada dos nossos primos, Homo Sapiens neanderthalensis, ficou a impressão de que a nossa subespécie, Homo sapiens sapiens, a exemplo dos demais animais, passaria a relacionar-se com a Natureza como uma unidade harmoniosa. Santa Ingenuidade! No começo, até que era assim. Mas, alguns de nós logo descobrimos o fascínio que é exercer o poder sobre os demais. E as formações sociais tornaram-se cada vez mais divididas.
A ciência comprova que foi na passagem do estágio superior da barbárie para a civilização que, com um maior domínio sobre a Natureza, pôde o homem aumentar sua produção e com isso obter um excedente.
Neste momento, nasceu a ganância.
Surge então a propriedade privada, a divisão do trabalho e com ela um salto no desenvolvimento da história. Com a propriedade privada, os produtores não produzem mais em comum para seu próprio consumo, mas individualmente. E se separam do resultado de seu trabalho, não sabem mais de seu destino. Agora produzem para a troca, para a venda. Percebemos que tudo pode virar mercadoria.
Surge a exploração individual da terra e sua posse privada, tornando-a, por conseqüência, uma mercadoria. No seu desenvolvimento, a troca fez surgir o mercador. Alguém separado totalmente da produção que passa a dominar o produto e a produção.
O mercador, como parasita, passa a dominar e acumula grande riqueza e com ela, prestígio e poder. Aparece o dinheiro e a moeda cunhada, instrumento de domínio do mercador sobre os produtores e a produção.
O dinheiro, como equivalente geral, elevou-se à condição de mercadoria especial. Aparecem o empréstimo, os juros e a usura. Logo, o próprio homem, como força de trabalho, virou também mercadoria.
O conflito social entre classes antagônicas levantadas sobre o modo de produzir desenvolve-se como fator subjetivo na condição de motor da história, impulsionando o desenvolvimento da tecnologia, e da competição.
Como ensina Oscar Motomura (motomura@amana-key.com.br), “tecnologia nada mais é do que a extensão de nosso dom de criar”.
Definitivamente, o Homo sapiens sapiens é um ser que cria. É a nossa natureza, nossa essência.
Gradualmente, século após século, década após década, ano após ano, cada vez mais rapidamente, vamos descobrindo mais e mais sobre como tudo funciona.
Mas criamos para quê? Com que propósito, estamos usando o dom de criação? Para que criamos novas tecnologias, novos produtos, novos jeitos de morar, de cozinhar, de movimentar, de transportar, de comunicar?
Imagine o leitor os impactos positivos que poderiam advir com a aplicação do conhecimento novo nas áreas da Biotecnologia (genes), da Neurociência (neurônios) e da Nanotecnologia (átomos).
Essa brincadeira poderia até estar nos levando a criar mais e mais produtos para melhorar a vida e potencializar o conforto de bilhões de seres humanos. Mas, apenas a minoria está sendo beneficiada.
Sem falar na tecnologia a serviço da irracionalidade destruidora das guerras. Guerra também dá lucro.
Com nossa insuperável estupidez, inventamos a barbárie tecnológica (vide Iraque, Síria, Ucrânia, Israel, Palestina e algo em torno de 19 guerras no continente africano; todas com efeitos devastadores).
O que fazer para que não se consolide a regressão moral do homem pós-moderno (egoísta, acanhado, agachado, pequeno, sem grandeza), para o qual somente importa o “Eu” e o “Agora”?
Resumo da ópera: a desigualdade e a ganância resultam na agressão à Natureza, no desvio de recursos tecnológicos – e em nossa própria capacidade criativa – para a busca do lucro máximo e do consumo supérfluo, motores da derrocada do homo sapiens (assim mesmo, com minúsculas).
Rinaldo Barros – professor – rb@opiniaopolitica.com
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