DESAFIOS HERDADOS –
Começo com uma constatação: o cenário que se descortina para o trabalhador continua incerto, desesperador.
Caso não pratiquemos conceitos inovadores para a Educação profissionalizante, não vejo a saída.
É verdade que, hoje em dia, é possível tornar-se cada vez mais competitivo e mais bem formado. De outro lado, esta mesma dinâmica modernizadora reduz drasticamente o número de novos empregos.
É inútil e vão esperar um futuro de “pleno emprego”. A máquina substitui o ser humano, com vantagem.
Desemprego, pobreza e violência estão associados à trajetória dos jovens brasileiros há muito tempo. Muito mais do que se poderia prever e desejar.
Temos grandes desafios herdados de nossa história injusta: 1) a proliferação do mercado informal, que já abrange a mais da metade das pessoas economicamente ativas; 2) o analfabetismo funcional (aquele que lê, mas não entende), atingindo cerca de setenta por cento da população brasileira.
Os últimos governos não avançaram em relação à questão da qualidade educacional da rede pública; com um detalhe: contingenciaram recursos, através da DRU, não cumpriram o valor mínimo destinado ao Fundeb; e nunca aplicaram mais do que (5,0%) cinco por cento da receita em Educação.
Somente será possível encontrar a saída através da prática de novos métodos pedagógicos e do investimento pesado para universalizar a educação básica profissionalizante. A escola deve ser atrativa para a jovens e isso deve acontecer com práticas que façam sentido para eles. Os currículos também devem abordar as habilidades exigidas para o século 21. E a Base Curricular, que está sendo estruturada agora, deve incluir as novas competências do mundo digital. O mundo muda rapidamente, e o patropi corre risco de não acompanhar.
Por falar nisso, espera-se que a vontade política do novo governo seja estimular a Educação pública de qualidade, a par de uma Lei de Responsabilidade Educacional; e a proposta de renúncia fiscal em troca de vagas para estudantes carentes na rede privada, preferencialmente, para formação técnica.
Sem dúvida, o incremento da competência humana do trabalhador é sua tábua de salvação.
Estão em jogo também outros dois desafios ainda maiores.
O primeiro refere-se à capacidade de manejar o conhecimento, por ser este a alavanca central das inovações modernas. Não cabe mais apenas absorver conhecimento, reproduzir, copiar, como se faz na escola, tradicional. É mister reconstruir o conhecimento tornando-se sujeito do processo, capaz de inovar e empreender.
Estimular o empreendedorismo é o caminho.
O segundo grande desafio refere-se à capacidade de humanizar as inovações imprimindo-lhes a ética histórica necessária para transformá-las em bem comum.
Podemos chamar o primeiro desafio de qualidade formal e o segundo de qualidade política, que buscam conjugar, num todo só, conhecimento e cidadania.
Não se trata mais de apenas fazer, mas de saber fazer, para poder sempre refazer. Devemos instituir a ideia de educação continuada. Todos, educadores e alunos, devemos ser eternos aprendizes!
Quem não estuda todo dia, todo dia enferruja o cérebro, inexoravelmente. A pessoa apenas treinada não vai além de reproduzir mecanicamente o que decorou. Isso é passado.
A economia moderna já não sabe o que fazer com esta figura que só sabe copiar. O trabalhador atualizado precisa aprender a pensar, pesquisar, para estar a par das inovações e – como protagonista – conceber ou criar novas soluções. É preciso aprender a aprender. A escola deve estimular a pesquisa e a dúvida.
Hoje, também o grande empresário precisa e pede uma escola básica de boa qualidade, não porque se tenha convertido às causas sociais, mas porque o analfabeto já não dá lucro.
Resumo da ópera: o cenário que viveremos no século XXI depende do que governantes e educadores realizarmos, concretamente, em termos de Educação profissionalizante de qualidade, de construirmos uma escola para a cidadania; ou não.
Poderemos construir a civilização ou a barbárie.
Rinaldo Barros é professor – [email protected]