DESCOMPLICANDO O TOMAR VINHO –
É comum assistirmos, em restaurantes, a cena em que o cliente prova o vinho antes que o garçom o sirva, ensejando a um observador desavisado a seguinte pergunta: o que acontece se o cidadão não gostar do vinho que lhe foi servido? Ele rejeita a garrafa deixando o estabelecimento com o prejuízo?
Essa prova consiste em descobrir se o vinho é bom, não se ele está bom. Verificar se a bebida se encontra na temperatura adequada ou não está oxidada, condições que habilitam a devolução da garrafa. Na maioria dos casos, cliente e garçom agem sem saber a que se prestam, encenando papéis ridículos beirando o grotesco.
O primeiro, segurando a taça pela haste, balança-a em movimentos circulares; em seguida, a encosta num guardanapo ou a coloca contra a luz para verificar a cor da bebida; por fim, bochecha o vinho e o engole, numa munganga adequada para sessões de degustações, não para uma simples refeição.
O garçom, por sua vez, oferece a rolha de material sintético, para o cliente cheirar e comprovar se o vinho está ou não contaminado pela doença da rolha (bouchonné), um fungo encontrado, tão somente, em rolhas de cortiça. Essa e mais outras anomalias comportamentais do tipo, são responsáveis pela fuga de potenciais adeptos da bebida. Eles merecem o nosso perdão, porque não sabem o que fazem!
Na verdade, não existe complicação alguma em tomar vinho, basta observarmos determinados tópicos que se responsabilizam pelo equilíbrio da bebida e nos fazem seus apreciadores. Alguns deles são o tanino, a acidez e o álcool.
Tanino – Está presente na casca e nas sementes das uvas tintas, e dá ao vinho estrutura para envelhecer. Em excesso, o tanino é áspero e deixa na boca a sensação parecida com a de banana verde. Um vinho com tanino equilibrado é uma bebida bem elaborada ou que já envelheceu por tempo suficiente.
Acidez – Um bom vinho precisa de acidez. Juntamente com o álcool e o tanino – no caso dos tintos -, a acidez responde pelo equilíbrio do vinho e por sua capacidade de envelhecimento. Ela ativa a salivação, tornando a bebida mais agradável.
Álcool – O álcool etílico no vinho resulta da fermentação do açúcar da uva e determina o corpo da bebida. Vinho muito alcoólico dá a sensação de doce, mas, se provocar calor e ardência na boca, indica que o álcool não está em equilíbrio com a acidez. É defeito.
Todavia, tudo tem a ver com o paladar do cidadão. Se o vinho lhe for agradável e lhe der prazer, certamente, se trata de uma bebida bem elaborada. Quando o vinho tinto parecer macio, levemente adocicado, não será surpresa se estiver diante de um vinho com alto teor alcoólico, acima dos 13%. Por outro lado, se o vinho estiver pegando, deixando a boca seca, não haverá dúvida: são taninos mal resolvidos.
O restante são penduricalhos que mais atrapalham do que ajudam o iniciante na arte de apreciar vinho. Porém, muita cautela para não parecer pedante ou cair no ridículo, ao atribuir a um vinho, sem a devida segurança, qualidades tais como: chato, amplo, austero, curto, magro, mofado, vinoso ou rançoso.
Para não ser tachado de alienado é de bom alvitre saber que o enófilo é aquele que gosta de vinho, o enólogo é a pessoa que trabalha o vinho e, o sommelier, é o responsável pelas cartas de vinhos e orientador da bebida ideal para combinar com o prato. Por fim, seja mais um descomplicado apreciador da bebida dos deuses. Saúde!
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – jnsousa29@gmail.com
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