José Narcelio Marques Sousa

Recente morte de criança seguida de suicídio deixou a nossa Natal abalada, porquanto mexeu com o emocional de muita gente. Uma atitude não comum, que ninguém pode definir as razões pela ausência de respostas. Apenas aventar suposições. Na minha concepção não foi um ato de crueldade, mas um acontecimento decorrente de provável mente abalada por descomunal carga de desespero.

O que consternou o povo da Cidade do Sol – antes pacata e agora uma das mais violentas do país -, foram os personagens envolvidos na tragédia: pai e filho. Um ato lamentável. Desproporcional perante as regras de conduta e racionalidade do conviver em sociedade. O retrato de uma triste cena de desespero.

A mim, abalou-me profundamente. Imaginei o sofrimento dos integrantes das duas famílias, impotentes diante da crua e irreversível realidade dos fatos. A dor dos pais do rapaz e a dos pais da viúva, vítimas inocentes de uma desgraça passível de ocorrer em qualquer família, indistintamente. Lamentei tentando dimensionar o sofrimento de uma mãe inconsolável perguntando-se: “Por quê?”.

O desespero é a doença do medo. É o estado de espírito que faz com que alguém acredite estar num beco sem saída. É um sentimento de angústia ligado, geralmente, ao descontrole, à aflição, à sensação de perda.

O extraordinário romancista castelhano Miguel de Cervantes, afirmou: “Não existe maior loucura no mundo do que um homem entrar em desespero”. O ato de ceifar a vida de um ente querido e, em seguida, a própria vida é um ato, sim, de desesperada loucura. Que outro motivo, além do completo descontrole emocional, levaria um ser humano ao suicídio?

Não, não sou psicólogo. Entretanto, não precisa ser nenhum profissional que domine essa área para imaginar o abalo emocional que moveu o desventurado rapaz para promover o inconcebível desenlace de duas existências. Sou pai e avô. E como tantos outros pais e avós eu também comungo da corrente anônima de solidariedade, que apela aos céus para dar força e abnegação aos familiares das vítimas para superarem com equilíbrio os efeitos desses momentos dolorosos. Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama afirmou: “a violência não é um sinal de força, a violência é um sinal de desespero e fraqueza”.

Concordo que a violência seja um sinal de desespero e fraqueza, como admito também que o desespero seja uma doença. A doença do medo, da insegurança, que tumultua os sentimentos e nos dá a noção de “quanto amargor fermenta-se no fundo da doçura, quanto desespero esconde-se na abnegação e quanto ódio mistura-se ao amor” (Marguerite Yourcenar – escritora francesa).

A mente humana é um poço inesgotável de surpresas, as quais se alternam entre agradáveis e dolorosas: as muito agradáveis e as terrivelmente dolorosas. Das últimas procuramos fugir, mas nem sempre conseguirmos. Chico Xavier também considerava a possibilidade de um indivíduo enlouquecer de desespero, e afirmava: “Ele perde o seu próprio discernimento. Isso é lamentável, mas pode-se dizer que tudo decorre da ausência de educação, principalmente, de formação religiosa”.

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – jnsousa29@gmail.com

Ponto de Vista

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