Defesa Civil crê que número de desabamentos pode chegar a 200 após enchente de 2024 — Foto: Richard Lauriano/Rede Amazônica Acre
Defesa Civil crê que número de desabamentos pode chegar a 200 após enchente de 2024 — Foto: Richard Lauriano/Rede Amazônica Acre

Deslizamentos de terra, casas arrastadas pelo Rio Acre, famílias desabrigadas e filas quilométricas para conseguir uma cesta básica. Estas são algumas das dificuldades vivenciadas pelos atingidos pela cheia do Rio Acre que buscam recomeçar após a baixa das águas.

Há mais de 10 dias, o manancial atingia uma marca histórica que impactou a vida de mais de 70 mil rio-branquenses. Os efeitos dessa enchente, no entanto, continuam a afetar a população.

 Contexto:o Rio Acre ficou mais de uma semana acima dos 17 metros e alcançou o maior nível do ano, de 17,89 metros, no dia 6 de março, há mais uma semana. Essa foi a segunda maior cheia da história, desde que a medição começou a ser feita, em 1971. A maior cota histórica já registrada é de 18,40 metros, em 2015.

Rio Branco

A capital do Acre, que teve a segunda maior cheia de sua história e estima um prejuízo de R$ 200 milhões, tem 62 áreas sendo monitoradas pela Defesa Civil pelo risco de deslizamentos de terra provocados por erosões. O coordenador da Defesa Civil de Rio Branco, tenente-coronel Cláudio Falcão explica o que causa o fenômeno.

“É a questão do próprio solo, que não tem sustentação, e esse solo sem sustentação não deveria ter construções. A partir do momento que tem construção, vai haver esse fenômeno de desmoronar. A outra questão é que onde estão os desmoronamentos com mais frequência é o local de barrancas do rio. Porque, a partir do momento que o rio enche, ele faz uma pressão muito forte nos barrancos. Na hora que ele tira essa pressão, esse barranco vai descer”, diz.

Falcão diz que a Defesa Civil estima que existam de 17 a 19 mil pessoas vivendo em áreas de risco na capital. Na última quinta-feira (14), duas casas e uma oficina desabaram e quatro veículos foram arrastados para a água no bairro Cidade Nova. No dia seguinte, novos desabamentos foram registrados, dessa vez no bairro Seis de Agosto.

E a perspectiva é que mais edificações desabem nos próximos dias. “Em 2023 [após a enchente], tivemos 200 edificações que desabaram, e estimamos o mesmo número para esse ano”, prevê. Ele ainda acredita que a cidade deve levar até um ano para se recuperar.

As famílias enfrentam ainda longas filas para conseguir cestas básicas distribuídas pelo poder público. No último sábado (16), mais de 4,5 mil pessoas de regiões como Taquari, Cadeia Velha, Cidade Nova, Seis de Agosto, entre outras, lotaram o estacionamento do estádio Arena da Floresta para tentar receber um kit com uma cesta básica de 33 quilos e água potável. Todos estes bairros sofreram com a cheia e tentam se recuperar.

A distribuição foi feita em outros três pontos: Central de Abastecimentos (Ceasa), Estrada Transacreana, na Secretaria Municipal de Cuidados com a Cidade (SMCCI), na Estrada da Sobral, e no Centro da Juventude, no bairro Cidade Nova.

Brasiléia

Uma das cidades mais atingidas pela enchente do Rio Acre, Brasiléia estima mais de R$ 55 milhões em danos e ao menos oito meses para voltar a operar normalmente. A enchente atingiu 500 pontos comerciais e 14 instituições públicas, como a Câmara de Vereadores, a Prefeitura e a delegacia da cidade, que ainda estão sem funcionar

Atualmente o nível do rio, que no ápice chegou a 15,56 metros, está abaixo do cinco metros. Entretanto, a Defesa Civil mantém um alerta de risco alto de desmoronamento, em especial, para as áreas mais próximas do manancial, um total de quatro bairros.

No bairro Leonardo Barbosa, que corria risco de apartar e “virar” boliviano, a enchente deixou uma cratera de 40 metros de extensão com 15 metros de largura e quatro metros de profundidade. Por isso, o acesso ao local ficou reduzido e mutirões com o uso de “correntes humanas” chegaram a ser feitos para levar mantimentos ao local.

O maior desafio, entretanto, é o que fazer com as pessoas que ainda estão desabrigadas. De acordo com a prefeitura, são 100 pessoas que tiveram as casas completamente destruídas pela enchente ou condenadas pela Defesa Civil por não terem mais condições de serem habitadas.

Ao menos 60 pessoas foram levadas para uma casa de passagem para imigrantes, enquanto outras 40 estão nas casas de amigos e parentes. Segundo a Prefeitura, essas pessoas foram cadastradas pela Secretaria de Assistência Social e, embora a ideia seja inclui-las no programa de aluguel social, não há locais vagos no momento.

“Não há local para alugar e colocar as famílias. Todo o centro foi pra parte alta [da cidade], e como somos uma cidade universitária, temos ainda muitos estudantes de medicina que locam parte das casas e apartamentos disponíveis. É um grande desafio”, explica o gerente de Jornalismo de Brasiléia, Fernando Oliveira.

Xapuri

Na cidade do líder seringueiro Chico Mendes, o Rio Acre está com 4,39 metros, bem longe dos 17,07 que chegou semanas atrás. A cidade teve 476 desabrigados, 2.092 desalojados e 16.210 pessoas, ou 88,86% da população, atingida pela enchente.

Após a enchente, porém, a situação parece ser um pouco melhor que a das cidades vizinhas. Apenas 15 residências precisaram de interdição e as famílias que nelas viviam foram encaminhadas para o programa de aluguel social. Todas as demais pessoas já retornaram para suas casas, mas segundo com o Corpo de Bombeiros da cidade, ainda não há uma avaliação final sobre os prejuízos.

Enchentes históricas

O Acre enfrentou uma cheia histórica em 2024. Em todo o estado, pelo menos 23.087 pessoas ficaram fora de casa, entre desabrigados e desalojados, segundo o governo do estado.

Além disso, 19 das 22 cidades acreanas declararam situação de emergência e quatro pessoas morreram por conta do transbordo de rios e igarapés. Quatro pessoas morreram em decorrência da cheia.

Fonte: G1

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