(DES)RESPEITO A CULTURA –
A Cultura é matriz do desenvolvimento. É transmitida pela Educação. Faz a diferença essencial entre os povos desenvolvidos e subdesenvolvidos. Entre os principais instrumentos de difusão cultural estão as bibliotecas, os museus, a dinâmica de monumentos artísticos, que constituem patrimônio material e imaterial do povo. Produzem efeitos benéficos à sociedade, o prazer de pensar, incentivam a criatividade, as manifestações intelectuais, artísticas, científicas e, sobretudo, produzem bem-estar individual ou coletivo.
Os saberes do mundo convivem nas bibliotecas. Esses seres maravilhosos e únicos guardam literatura, poesia, filosofia, artes, ciência e tecnologia. Elas, públicas ou privadas, são o universo das palavras.
A função maior da biblioteca é satisfazer a alma. O poeta Walt Whitman lembra que tudo que satisfaz a alma é verdadeiro. É lugar de procurar a verdade, de amar o saber.
O amor também ao livro produz ciúme. Comprei, em Salamanca, um azulejo que explica esse zelo. A sua inscrição explica e protege a biblioteca do meu Escritório. Está escrito: “Los libros son orgullosos, si son prestados no regrasan jamas”. Emprestei muitos livros que jamais voltaram ao meu convívio.
As bibliotecas são como seres vivos, têm ascensão e queda. Um exemplo de ascensão é a biblioteca Zila Mamede da UFRN. Deus deve ter permitido que Zila, uma das maiores bibliotecônomas do Brasil, continue inspirando a eficiência da instituição que leva o seu nome. Quando estava como reitor da Universidade, Zila exigiu que conseguisse duplicar a biblioteca central, tanto na estrutura física, quanto bibliográfica. Conseguimos. Um dia, mandei buscar um livro. A Diretora negou o empréstimo porque a minha ficha de leitor estava desatualizada. Fiquei irritado. Minutos depois, chega Zila e diz-me: “retirei o livro em meu próprio nome. Tenha muito cuidado com ele! ”
A Biblioteca Américo de Oliveira Costa presta inexcedível contribuição à Educação e à Cultura da Zona Norte.
Natal possuía dois teatros em atividade elogiável: o Teatro Alberto Maranhão, na Ribeira, desde 1904; e o Sandoval Wanderley, no Alecrim, desde 1962. A cidade que tem o nome natalino teve um presépio nascido da parceria de Oscar Niemeyer com Dorian Gray Caldas.
Merecem respeito a Capitania da Artes, Fundação José Augusto, Conselho Estadual de Cultura, o Departamento Estadual de Imprensa – DEI, bem como as instituições privadas: Academia Norte-rio-grandense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico do RN, Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo.
Apesar da dedicação dos dirigentes institucionais, o Poder não considera a Cultura como prioridade administrativa, o patrimônio cultural é, por consequência, abandonado. Fecharam as portas do Teatro Alberto Maranhão. O Sandoval Wanderley continua interditado. A biblioteca que leva o nome de Câmara Cascudo, bem-nascida, por ele mesmo inaugurada, maravilhosa e única, é menos que um “depósito de livros”. Esta seria apenas uma tradução pobre e literal do sentido grego da palavra. O presépio de Natal e sua obra de arte estão destruídos. Tudo isso dói na alma do natalense que se preza.
Diógenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN
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