DESTINOS DOS DESATINOS NACIONAIS –

Uma das felicidades dos seres humanos durante os processos de aprendizado em suas vidas escolares é o acontecimento quase lúdico de encontrar professores, que transmitem os conhecimentos, revestindo-os com o verniz da história e do encantamento verbal.

A gnose humana é impregnada, então, com a fixação da memória de forma sutil, agradável e, sobretudo, imorredoura.

O Brasil já teve ensino de qualidade e quantidade! Havia repetência…

A massa discente do ensino brasileiro está aos frangalhos, composta de jovens que desconhecem o idioma pátrio e de outras matérias, que ilustram a gnose humana, a ocupar a rede pública de ensino, outrora de qualidade. Verdadeiro faz de conta!

No polo oposto, os corpos docentes não têm mais Joões Fassina…

O nível educacional de qualidade, de ponta, sem rodeios político-ideológicos, circunscrevem- se aos estabelecimentos particulares e de cunho militar, apenas, que alcançam o patamar de quinta nação mundial, consoante o Programme for International Student Assessment (PISA), embasador da OCDE.

Aguarda-se que o futuro Ministério da Educação, funil educacional brasileiro, possa contar com dirigentes da estirpe e dimensão de mestres como Deonísio da Silva, Alexandre Garcia e muitos outros, capazes de alavancar o arcabouço, ora fragilizado.

Volta-se ao passado, ao centenário colégio tedesco – Deutscher Hilsverein , época em que eram ministradas aulas de latim (ludus primus, ludus secundus, ludus tertius e ludus quartus), aulas de inglês, aulas de espanhol e aulas de francês.

Essas últimas eram conduzidas pelo mestre João Fassina, Inspetor de Ensino, gaúcho, homem culto e elegante, dialético, que mais parecia um personagem da Belle Époque, a rememorar passagens do Theatre de Vaudeville, do Folies Bèrgere, onde Toulose Lautrec e Manet, tinham cadeiras cativas. Inesquecíveis aulas!

Amor à primeira vista, quando narrava em francês, tecendo comentários em português numa ambivalência incomum, a descrever a figura dantesca do pobretão e famélico Honoré de Balzac, que dependurava quadros de frutas e acepipes na parede, em horários das refeições, alimentando-se mentalmente.

A Comédia Humana (Comédie Humaine- obra referencial), foi antecipada pelo Código dos Homens Honestos, compêndio romanceado com suas tradicionais ironias acerca do declínio de valores morais, sobrepujados pelas ilicitudes societárias, que permanecem atualíssimas no decorrer dos séculos.

O prolífico romancista francês é autor de centenas de criações literárias, que até hoje são atuais, a exibir os meandros da corrupção das elites.

Ensinava-nos o mestre João Fassina, que Honoré de Balzac e a viúva Ewelina Hanska, condessa ucraniana, riquíssima esposa do latifundiário Waclav Hánski (Conde de São Petersburgo com uma vintena de anos mais velho do que ela), formaram um casal extraordinário, onde os apetites de toda ordem foram saciados, resultando em obras como a Mulher de Trinta Anos, Esplendores e Misérias das Cortesãs, Ilusões Perdidas e tantas outras, que compõem o acervo desse genial escriba.

Honoré de Balzac e a condessa Hánska já se conheciam e mantinham correspondências… Dizem que o termo balzaquiana, mulher já experiente da vida, guarda origem e étimo das relações de Balzac. “Existem dois tipos de história mundial: uma é a oficial, mentirosa, própria para as salas de aula; a outra é a história secreta, que esconde a verdadeira causa dos acontecimentos.” – já prelecionava Balzac.

A propósito, Honoré afirmava: “O HOMEM COMEÇA A MORRER NA IDADE EM QUE PERDE O ENTUSIASMO.”

 

 

 

 

José Carlos Gentili – jornalista

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