As luzes de Natal, para algumas pessoas, despertam sentimentos nem sempre positivos. Concluir metas, rever familiares e começar um novo ano podem ser motivos de ansiedade e de estresse. Esse conjunto nem sempre positivo de emoções que se intensificam agora às vésperas do Natal e o Ano Novo ganharam inclusive um nome popular: “dezembrite”.
Segundo especialistas ouvidos pelo portal g1, a “dezembrite” é um conceito que não existe na psicologia, na psiquiatria ou na psicanálise, mas os sentimentos e sintomas associados a essa “síndrome do fim de ano” são reais. Para quem tem quadros de saúde mental, os sintomas dessas doenças pré-existentes podem ser agravados neste ciclo de fim de ano. E mesmo quem não tem questões como depressão, transtornos de ansiedade e afins pode se sentir afetado.
“A mudança de ano é sentida de forma muito aguda por toda a sociedade, uma vez que há uma celebração comunitária (…) Para pessoas com transtornos mentais, mudar termina sendo algo muito mais doloroso. Então, embora eles estejam sofrendo do ponto de vista de uma doença, de um distúrbio psíquico etc., esse sofrimento elas conhecem. O sofrimento que o próximo ano vai trazer é desconhecido e isso gera uma angústia maior”, explica o psicanalista Érico Andrade.
O psiquiatra Saulo Ciasca comenta que dezembro é tipicamente um mês associado a fim de ciclos (ano letivo, trabalho e outros).
E esses desfechos podem fazer com que pessoas que não têm o hábito de refletir sobre sua própria vida experimentem sensações negativas, uma espécie de luto pelo ano que passou, segundo Érico Andrade, psicanalista e professor de filosofia da Universidade Federal de Pernambuco.
De acordo com o psiquiatra Saulo Ciasco, um dos sentimentos que algumas pessoas vivem em meio a este “luto” com o fim do ano é a angústia.
Saulo diz que esse estado de espírito pode surgir para aqueles que, ao analisar suas realizações ao longo do ano, constatam que “viveram no automático”. E acabam concluindo somente no fim do ano que não realizaram aquilo que gostariam. O resultado é a frustração e angústia que aparecem em meio ao turbilhão da “dezembrite”.
“A angústia é um sinal de que o tempo passou e a gente desperdiçou. Ou seja, a gente tem um tempo limitado na vida”, explica Ciasca.
Segundo o psiquiatra Saulo Ciasca, cada fechamento de ciclo significa que muitas tarefas precisam ser “tiradas da lista” para que no ano novo a pessoa esteja “completamente feliz” com metas realizadas. Esses planos a serem concluídos podem aumentar a ansiedade e o estresse.
Segundo a psicanalista Maria Homem, a dezembrite pode desencadear outros sintomas além de angústia, ansiedade e estresse.
Tudo depende da forma como cada indivíduo lida com as situações. Ou seja, ao passar por um momento sensível, o corpo de uma pessoa pode responder com diferentes formas de mostrar que não está bem, como, por exemplo, aumento da vontade de comer.
Maria Homem explica que é nesse momento que é preciso descobrir como cada pessoa responde a essas situações em que se sente vulnerável.
A psicanalista dá exemplos de possíveis respostas que também podem indicar “sintomas de dezembrite”:
Segundo Maria Homem, é preciso avaliar se há um padrão que se repete a cada fim de ano e questionar o que despertou essa resposta. Foi a impossibilidade de participar de todas as festas de com os amigos antes do fim de ano? Foram as conquistas financeiras que ficaram aquém do desejado? É a saudade de pessoas que já morreram?
A psicanalista também explica que a dezembrite pode começar antes mesmo de dezembro. Em alguns casos, ela pode aparecer já no final de novembro, quando decorações das árvores de Natal e os pisca-piscas começam a ser espalhados pelas cidades.
Maria Homem explica que, nessa época do ano, todos passam por um ritual de transição, entre um ano que se foi e outro que vai começar. Então é comum sentir angústia e nostalgia e, ao mesmo tempo, entusiasmo com tudo o que está por vir.
Este conceito é apresentado na psicanálise como ambivalência, como também explica o professor da UFPE.
“É o paradoxo do ano novo, porque você morre por um lado, e renasce por outro”, explica Érico Andrade, psicanalista e professor de filosofia da UFPE.
No fim de ano, também é comum passar por um processo de atribuir todas as responsabilidades da sua vida para si mesmo, ou seja, é comum nos avaliarmos de forma mais radical e pensar sobre o que planejamos e não executamos.
E, além disso, muitas pessoas podem ainda se cobrar para que mais um ano não se repita da mesma forma, explica Érico Andrade.
Segundo o psicanalista Érico Andrade, há formas de lidar melhor com os sintomas e sentimentos da “Dezembrite”:
Fonte: G1
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