DEZEMBRO –
Ano bizarro, esse. Nunca perdi tantos amigos em tão pouco tempo. Mas, enfim, chegou dezembro, o mês do Natal. Os presentes, essas acomodações de sonhos e orçamentos, estarão escondidos em embrulhos coloridos. Bolas ocas de acrílico em diversas tonalidades, leves, frágeis, nas pontas dos galhos de pinheiros artificiais. Flocos de algodão-mocó imitando neve, um tanto surreal por essas bandas, dando aquele toque nórdico necessário ao ambiente. E aos nossos olhos, também, habituados que estão à monotonia das estações bipolares de seca e chuva e à visão das mangueiras e cajueiros carregados de frutos durante essa época do ano. Sem falar no Papai Noel naquela indumentária cor de fogo e calorenta entrando, de mentirinha, de maneira sorrateira, pelas portas dos fundos e janelas das casas, haja vista a inexistência de lareiras e chaminés, por onde passar e deixar as encomendas.
A alimentar a fantasia dos meus netos. Sou contra esse tipo de coisa, não. Já me acostumei, desde menino. Todas essa ficção, afinal, simboliza gestos concretos de paz, de amor, da esperança em luta com a possibilidade de perdão. Afinal, tudo na vida é imaginação. E vital, a compaixão e a ajuda. Sentimentos que cabem bem em qualquer um. A função do Natal seria, me parece, tentar exorcizar a ausência dos que nos faltam. Daí a sensação de saudade que me incomoda, mas ao mesmo tempo me torna mais sensível, pois é a ocasião em que me habituei a pensar em todos aqueles de quem gostei tanto. E resgatar na lembrança momentos irrepetíveis. O olhar da minha mãe, do meu pai, da minha mulher, dos meus avós, dos meus tios, pessoas amadas que me faziam tanto bem.
A alegria do Natal pra mim é a sobra da minha soturna imaginação. Já que me acostumei a frequentar labirintos, o significado deste Natal será mais uma vez abri-la, de preferência com pessoas queridas ao meu redor. Sem que elas se apercebam. Fico, assim, mais livre e contente em manter meus desalentos momentaneamente controlados.
José Delfino – Médico, poeta e músico
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