DIA DAS CRIANÇAS –
Sei que é feriado, mas acordei cedo. Faz algum tempo que passarinhos fizeram um ninho na nossa caixa do ar-condicionado. Amo o canto deles. Estão ali dia após dia. Livres. Cantam em diversos horários, entretanto, pela manhã, quando ainda estamos com a cidade mais silenciosa, é neste momento que os escuto com mais clareza. Acho fofo…
Hoje fiquei preguiçosamente na cama ouvindo seu canto. Respondi algumas mensagens e desliguei o celular. Uma pausa, por favor. Ao levantar, nosso caçula já estava acordado. Sentamos para conversar. Então, me dei conta, com certo peso no coração, que não temos crianças em casa. Como assim?
Engraçado como estamos sempre querendo coisas diferentes… Quando os filhos são pequenos queremos que eles cresçam e, quando crescem, queremos que voltem a ser crianças. Pelo menos por alguns instantes. Que tolice! O tempo voa… Como os passarinhos em nossa caixa devem voar. No seu tempo…
Já não passamos mais pela clássica compra de brinquedos. Não escondemos mais os pacotes enormes com os sonhos de consumo deles e pedimos a Deus que não tenhamos confundido os pacotes. Em um Natal, mamãe trocou os presentes em nossa casa, dando ao filho de seis ou sete anos uma imagem de Nossa Senhora, enquanto jurava ser um boneco… Nem preciso contar a decepção causada. Então, sempre fico ansiosa com os pacotes de presentes. Enfim, nada disso aconteceu hoje. Senti falta… Senti falta do período que eles eram beeeem pequeninos e ficavam mais felizes com as caixas que recebiam do que com os próprios brinquedos que vinham nelas. Aí, a noite, ao deitarmos, eu e Flávio olhávamos um para o outro e dizíamos, em meio a risadas:
– Que bobagem isso tudo. Era só termos dado caixas para eles que seriam felizes.
Verdade… Mas no outro ano, voltávamos a seguir a rotina institucionalizada de comprar presentes, esconder presentes e pedir a Deus que entregássemos os presentes certos para cada um… Esquecendo o aprendizado do passado.
Não consigo entender com clareza como os anos têm passado tão rápido. E este ano, então! Que loucura. Ontem, ao nos reunirmos ao redor da mesa para jogar palavras cruzadas, vi que meus sonhos são realidade. Enquanto falávamos das lembranças dos filhos, rindo com seus erros de português ao aprenderem a falar ou recordando aqueles acontecimentos vergonhosos que guardamos para só comentar entre os mais chegados, concluo, sem medo de errar, que os melhores presentes não se compram.
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Professora universitária