Nasci no Rio de Janeiro há seis décadas. Meu saudoso pai tocava uma loja de móveis no então tranquilo bairro de Jacarepaguá. De prazenteiras lembranças, início dos anos 60, uma das que evoco era ver na escrivaninha paterna um volumoso livro: O Dicionário de Folclore Brasileiro, do historiador potiguar Luís da Câmara Cascudo.
Durante meu período escolar vivia consultando as exegeses magníficas cascudianas, tecidas na preciosa obra pelo ilustre pesquisador brasileiro. Inclusive Cascudo sugere didaticamente autores de valor para entender o nosso Brasil e os preceitos universais e humanistas. Uma recomendação levei a sério com a leitura constante do
sociólogo Gilberto Freire, consagrada obra Casa Grande & Senzala. Gilberto Freire documentalmente admirador e amigo do nosso folclorista maior potiguar.
Coincidentemente, no dia internacional do livro, refazia minhas pesquisas folheando o Dicionário de Cascudo, ainda conservado, quase 50 anos após deslumbrar com o texto múltiplo que bem expressa em leitura deleitosa a essência do ser brasileiro.
E é curiosa a admissão do Dia Internacional do Livro para constar de evento comemorativo ao saber universal, que cabe a tantas nações com suas riquezas em conhecimentos adquiridos, com base nas memórias e nas mentes criativas compartilhadas. Não há dúvida que a celebração visa fundamentalmente estimular, conscientizar as pessoas
para o prazer e a utilidade vital da leitura. No mesmo sentido vejo oportunidade para homenagear obras literárias de estimada valia, assim como os autores de reconhecida importância.
A data 23 de abril nos remete à Catalunha, em que se revive a comemoração de nascimento do genial autor universal, Miguel de Cervantes (1547/1616). Sua obra monumental Dom Quixote de La Mancha (El Hingenioso Hidalgo) é uma necessária leitura através dos séculos desde a Renascença considerado o fundador do romance contemporâneo. Por todo o mundo as traduções, seus personagens que saltaram do livro para o mundo do imaginário contemporâneo, e, hoje, contemplamos em tantas maneiras de arte, na pintura, no cinema, na poesia, na música e nas múltiplas páginas revisitadas.
A acrescentar a data para a cultura catalã que nos faz reportar à tradição de trocar flores por livros, no dia de São Jorge, e a data acabou adotada pela Unesco.
Se embarcarmos na arte livresca, atentos a Ariano, Rachel de Queirós, Alencar, Machado, chegamos a um Brasil envolto em tantos enredos e contos, romances e textos simbólicos, que nos aproximam das origens e do renascer do nosso povo; a riqueza da mescla ou das notáveis histórias advindas em profusão dos berços indígena e africano.
Nesse átimo, um dos maiores escritores precisa o natalense, o povo potiguar, não se cansar de rememorar. Cabe assim inserir nessa data profícua e merecedora o mestre Luís da Câmara Cascudo, por nós, seus leitores, admiradores, estudantes, pesquisadores, para que dessa forma seguir perpetuando esse legado da essência cultural brasileira.