A potiguar Cibele Florêncio, de 24 anos de idade, realizou “um sonho de criança”, como ela define, no último mês de dezembro. A primeira viagem de avião e, logo de cara, internacional: com destino a Varsóvia, na Polônia.
O sonho não estava em apenas conhecer uma nova cultura, mas principalmente no objetivo da viagem, que era nobre: disputar o Campeonato Mundial de Xadrez.
De origem humilde, com a mãe vendedora de marmita e o padrasto piscineiro de um condomínio, Cibele trabalha como diarista para ganhar a vida. Mesmo na dura rotina, que não a permite se dedicar exclusivamente ao xadrez, ela arranjou um espaço para ir longe no esporte.
“A minha experiência no Mundial foi a melhor do mundo, algo maravilhoso, que vou levar pro resto da vida. Era um sonho de criança, que eu tinha, e fui aprendendo a jogar mais intenso”, contou ao g1.
Para poder estar lá, no entanto, não foi fácil. Vice-campeã brasileira em duas categorias, ela se credenciou a disputar o Mundial. Mas faltava o aporte financeiro para garantir a viagem, a estadia e o tempo na cidade polonesa.
Foi nesse momento que surgiram patrões, um grupo de médicos de um hospital particular de Natal, e uma vaquinha virtual. A arrecadação possibilitou a viagem e a realização do sonho.
“Ter conseguido atravessar o mundo para realizar o meu sonho… Eu me senti muito orgulhosa de mim mesma, porque eu nunca tinha viajado nem nacionalmente e minha primeira viagem ser internacional, então foi tudo um aprendizado e muita emoção junto. Um momento único”.
De dia diarista, de noite enxadrista
Cibele Florêncio também sofre para poder treinar. Imagina ter que trabalhar durante todo o dia como diarista e de noite, se o cansaço deixar, encaixar um tempinho para poder treinar xadrez. E mais: ser vice-campeã brasileira e representante do país no Mundial desse forma.
“Eu sou diarista e faço faxina o dia todo, desde de manhã cedo. Saio de casa às 7h30 para chegar em casa depois das 17h. E quando tem algum torneio no fim de semana que eu consigo ir, eu chamo a minha irmã pra treinar”, conta.
A irmã dela, Maria Gabriele, de 21 anos de idade, é a parceira de treinos durante as noites. Isso quando Cibele não chega muito cansada do serviço.
“O único momento que a gente tem para treinar é à noite, porque durante o dia eu faço faxina, então não treino muito”, contou.
Quando a irmã não pode, Cibele conta que o jeito é apelar para treinar sozinha mesmo, em duelos por aplicativos.
Paixão pelo tabuleiro desde criança
Moradora da Comunidade do Retiro, no município de Macaíba, na Grande Natal, Cibele Florêncio começou a treinar xadrez com 9 anos de idade.
Ela fez parte de um projeto da prefeitura que ensinava alunos das escolas da rede pública a jogarem o esporte. A irmã dela desenvolveu o talento no mesmo projeto.
Desde o início da carreira, que começou com torneios locais, ela segue uma caminhada movida pela paixão pelo xadrez, praticamente sem apoios financeiros.
Recentemente, após ter recebido o auxílio para competir o Mundial, as coisas parecem ter melhorado e ela também conseguiu fechar um patrocínio.
Com mais ajuda, a ideia é conseguir se dedicar ainda mais à carreira como enxadrista.
“Agora é focar mais. Pretendo me dedicar, estudar mais, tentar tirar um tempo mais pra mim. Agora como está uma correria, cumprindo alguns compromissos, eu não estou treinando muito, mas eu pretendo, sim. Quero viver de xadrez, fazendo o que eu gosto“, destacou.
Cibele também contou que recebeu oferta de bolsa para estudar em uma universidade particular de Natal, além da oferta de um colégio que quer que ela dê aulas de xadrez aos estudantes.
Fonte: G1RN