DIFERENTES INFINITOS –
Depois que Flavinho voltou às salas de aula da universidade no curso de TI, as conversas familiares sobre matemática tomaram novos rumos em nossa família. Aprendi mais sobre números primos com ele do que em todos os anos de escola. E olha que eu amava matemática e meus professores! Aprendi – ou tentei aprender – sobre conjuntos e suas nuances e me impressiono como nosso caçula, Felipe, sabe muito mais sobre isso do que era comum sabermos em “nosso tempo de escola”.
Assim, em um dia chuvoso, daqueles que o céu fica cinza e as ruas se enchem de lagoas, estávamos os três no carro e nosso Felipe diz:
– Existem infinitos maiores que os outros.
Viro-me para encará-lo, com meu lado emocional aflorado, e digo:
– Sim, meu amor por vocês é infinito e mais infinito que o tamanho do universo! É sobre isso?
– Não, mãe. Se há uma infinidade de números entre o 1 e o 2, existe o dobro de infinitos entre o número 1 e o 3.
É sobre isso: infinitos maiores que outros…
Infinitos maiores que outros. Nada romantizado, nada emocional. Apenas a ciência mostrando uma realidade maior do que podemos enxergar…
Onde está a segurança do conhecimento de que o 1 pula para o 2 e depois para o 3 e assim sucessivamente até que a gente vê um oito deitado representando o infinito e está tudo certo, tudo bem? Nem entre números vemos mais a segurança?
Continuamos a conversa e eu me vi vagando dentro de mim, questionando-me silenciosamente sobre o infinito, sobre a infinitude de pensamentos, de emoções, de sentimentos que me consome e me embriaga durante a vida. Sentimentos que não consigo expressar, palavras que não consigo dizer e ficam dançando entre o cérebro e o coração, saltitando perto da boca e retornando para os recôndidos escondidos, por entender que devem ser guardadas para mim apenas. Infinitos…
Lembrei de Marisa Monte e do Infinito Particular (Vem cá, não tenha medo. A água é potável daqui você pode beber. Só não se perca ao entrar no meu infinito particular) e entendi como meu infinito é muito maior do que eu podia julgar e é tão particular que não se pode entrar.
É verdade…
Temos cada um o nosso Infinito Particular e, talvez, só talvez!, alguns sejam maiores que
outros…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora