DIVAGANDO E PROCURANDO SOLUÇÕES –

Nesses tempos de pandemia um ambiente de felicidade nem sempre é possível de encontrar e para aqueles que associam a felicidade a sexualidade, muitas vezes têm dificuldade de encontrá-la nessa associação. Lembrei do artigo de Zé Delfino desta semana no Blog de Nelson Freire, que tão gentilmente nos acolhe frequentemente. Dizia Zé Delfino no seu artigo “Divagando: quando me perguntam se sou feliz, uso sempre a mesma máscara. Digo que sim.” Segue descrevendo situações de relatividade do “está feliz”, exemplificando quatro casos de experiências sexuais onde a felicidade não esteve presente na sua maioria e aparentemente sem solução de melhoria para todos eles. Isso me fez lembrar um amigo, que certo dia ligou para mim.

– Olá, tudo bem?

– Tudo. O que mandas? Perguntei querendo resumir o papo, já que estava ocupado no meio do consultório.

– Gostaria de falar com você, algo importante. Pode ser no final do expediente.

– Ok, venha aqui, que conversamos quando terminar meu atendimento.

– Certo. Chego já é fico aguardando.

Desligo o telefone e penso – Será que esse cara quer dinheiro emprestado? Logo agora que estou num sufoco de grana. Será o jeito dizer que não poderei. Fiquei planejando a desculpa. Após terminar o atendimento lá estava ele me aguardando.

– Boa noite amigo. O que está havendo, você não está com a cara muito boa. O que está acontecendo?

– Meu amigo, uma tragédia. Estou com um câncer.

– Calma, me fale sobre o caso, antes de pensar no pior. Câncer hoje tem muitos tratamentos e se o seu for inicial terá chance de ficar curado.

– Problema não é o câncer. Responde ele, já segurando o choro. O pior é o resultado do tratamento.

– O tratamento realmente é desagradável, porém logo que termina melhoram os sintomas desagradáveis.

– Aí é que você se engana. Aí é que piora.

– Como assim? Geralmente é o que acontece na maioria das vezes. Afinal onde é o seu câncer?

– Estou com câncer de próstata e o doutor me falou que vou ficar broxa. Logo eu. Isso eu não vou suportar. Acho que vou me suicidar.

– Calma, calma. Isso não é o fim do mundo. A disfunção erétil ocorre na grande maioria dos homens, mesmo sem câncer. Com o passar dos anos, se por acaso não morrer logo, todos nós teremos que passar por isso.

– Comigo não. Responde ele, já contendo o choro. – Eu nunca falhei. Gritou, falou, tô em cima.

– Meu amigo, a disfunção erétil hoje tem várias formas de solucionar.

– Que porra de disfunção erétil. Diga logo, broxa, broxa. Não sei o que vou fazer. Dizia ele voltando a chorar.

– Veja só. A sexualidade não se resume apenas a ereção peniana. Tem todo um contexto, um clima, um preâmbulo do casal e o prazer continua existindo para ambos.

– Comigo não. O negócio é bateu valeu, não tem esse negócio de preparo. Estou sempre preparado.

– Realmente você tem que se reprogramar nesse novo conceito. Tem muitas alternativas para um casal se satisfazer sexualmente. Para isso você vai ter que conversar com sua parceira, para agregar novas técnicas e ferramentas para que ambos possam continuar numa relação prazerosa onde ambos se satisfaçam. Terá que superar velhos preconceitos e paradigmas para a solução do problema. Já que a ereção peniana é mais importante para você do que a cura do câncer. Nessa altura eu já estava impaciente com a insistência e valorização machista dele e o egoísmo de provavelmente preocupar-se com seu próprio prazer e não de uma ação compartilhada.

– Realmente não sei como vou fazer. Eu que não me contento com pouca coisa é uma atrás da outra e logo depois relaxo. É o meu melhor calmante. Estou desesperado. Ele continuava na mesma história, em nenhum momento se preocupou com a parceira. Eu já impaciente com aquela história, apelei para ver se teria um fim.

– Você já viu duas mulheres transando?

– Claro que não.

– Então entre na internet que você vai ver e aprender. As duas gozam de revirar os olhinhos e nenhuma tem pau. Ele arregalou os olhos e ficou espantado de boca aberta.

– Vá pra casa. Se preocupe em tratar logo seu câncer e depois de pesquisar vá aprender a foder. Ele levantou-se e saiu pensativo. Parando o choro, respondeu.

– Obrigado amigo. Acho que hoje vou conseguir dormir

– Até a próxima. Mande notícias. O tempo passou e certo dia encontro o casal num restaurante e ao cumprimentá-los de longe, ambos estavam rindo. Pelo menos aparentavam um ar de felicidade.

Delfino, acho que algo deve ter deixado esse casal mais feliz que anteriormente, pois sempre que os encontrava, a companheira não demonstrava tanta felicidade quanto agora.

 

 

 

 

 

Maciel Matias – Médico mastologista, [email protected]

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *