DO MATO GROSSO DO SUL, SINAIS DE LUZES E FLORES –

O duro episódio da pandemia pode me revelar que o querido estado do Mato Grosso do Sul tem outras extraordinárias reservas, que vão além dos seus patrimônios naturais. Particularmente, refiro-me aqui a dois dignos representantes do seus valores humanos, justo nesse tão questionado ambiente político brasileiro.

De fato, a crise sanitária foi responsável pela exposição nacional tanto do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, como da senadora Simone Tebet, mesmo que em contextos bem distintos. Digo isso pela difusão dos nomes diante do grande público, uma vez que meu conhecimento sobre o trabalho de ambos precede à pandemia. É que as minhas incursões como gestor público por Brasília, entre 2016/18, deu-me algum conhecimento sobre o ofício de ambos.

O ministro Mandetta, enquanto deputado federal, era muito bem citado e cotado, até mesmo por pares rivais, com os quais tive que me relacionar, pelo ofício profissional. Depois, o trabalho dele, no início de uma crise sanitária que já se desenhava como grave, foi claramente reconhecido pela sua dedicação e transparência, o que lhe proporcionou uma visibilidade nacional, muito bem captada pelas pesquisas dos institutos de opinião. Justo por encarar publicamente o descompasso escancarado pelo próprio governo em negar a gravidade da pandemia, esse respaldo do reconhecimento popular derivado do seu empenho, rendeu-lhe não só a perda inevitável do cargo. Trouxe-lhe também um tratamento de adversário político, suficiente para uma disposição de encarar o provável desafio da próxima eleição presidencial. Capacidade política e técnica não lhe faltam.

Já a Senadora Simone, por sua vez, restaura aqui na minha lembrança a postura equilibrada e democrática quando, nas duas últimas ocasiões, não foi contemplada pelos seus colegas senadores para exercer, com toda capacidade que lhe faz ímpar, a presidência do Senado. Agora, mesmo não sendo um nome integrante da CPI do COVID, suas ativas participações resumem muito bem o grau de compromisso público. Um desempenho digno de um mandato popular que deve ser escrito com letras maiúsculas. Num contexto no qual a participação feminina nessa comissão tem sido um notável diferencial, ela tem atuado como uma genuína protagonista, uma estrela em merecedora ascensão. Também não lhe faltam credenciais para a maior das disputas eleitorais.

Ao dedicar esse texto ao Mato Grosso do Sul, por esses exemplos de revigoração na política, lembro que ambos já estão citados como eventuais candidatos à presidência e que nas pesquisas têm juntos algo como 5% a 7% das intenções de votos. Por essa e outras razões que contribuem para um cenário menos polarizado, ambos trazem algum alento nesse desafio nacional de restaurar uma credibilidade tão atacada, dentro do sistema político.

Por outro lado, as experiências de se validarem candidaturas que sejam ou que se vendam como “outsiders”, dentro dessa conversa estéril e repetitiva de se fazer vingar um certo sentimento anti-establishment, tem-se mostrado como algo desastroso. Nesse sentido, reforço meu entendimento de que, bem ou mal, a “seleção natural da espécie” precisa ser fortalecida dentro dos partidos políticos. Estes, a propósito, precisam ser recreditados e reduzidos em número.

Para concluir e aproveitar um episódio político recente, quero aqui reforçar minha admiração e solidariedade ao ocorrido com a Senadora Simone na última terça-feira. Em mais uma demonstração de pleno compromisso com a essência investigativa da CPI, sua maneira de arguir o ministro da CGU, munida pela costumeira incontestabilidade das suas informações técnicas, foi uma prova de competência. Para quem tem o dever de operar o controle, restou ao ministro um modo de reação, justo com o uso da arma que ele, preconceituosamente, atirou em resposta à arguição: o descontrole.

A senadora foi cirúrgica e equilibrada. Por conta de mais essa sua demonstração de que a política pode ser crível, reconheci que uma certa desesperança na chegada da primavera, que até então se anunciava como sem graça, ainda pode render flores. Por isso, fiz questão de falar delas. E da Senadora Simone.

 

 

 

 

Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco

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