DO OUTRO LADO DO CAMPO DE BATALHA –

A perda de entes queridos ou mesmo não queridos, está sendo uma ocorrência diária nesse período de pandemia. Diariamente somos bombardeados por informações catastróficas sem necessidade, simplesmente para agregar maior terrorismo ao ambiente. Claro que o momento é grave e preocupante, porém, torna-lo mais agitado é querer tirar benefício da tragédia e do sofrimento alheio, quando poderiam orientar e oferecer alternativas de cuidados, simplesmente jogam álcool para querer apagar o fogo. O ambiente é de guerra e na guerra  muitas coisas se perdem e também se criam, mas, o que marca mais fortemente são as perdas humanas, principalmente aquelas que estão ao nosso lado. Nessa pandemia sentimos como se todos estivéssemos num campo de batalha e quando menos esperamos, alguém imediatamente ao nosso lado na trincheira é atingido por um disparo certeiro e em segundos aquela vida com quem acabávamos de falar, desaparece em meio aquela tormenta de pessoas, correndo de um lado para outro, num verdadeiro desespero, uns procurando escapar, outros procurando atender os feridos, graves em sua maioria. É nesses momentos que vemos como é tênue à distância entre a vida e a morte.

Como aceitar a morte? Algo que certamente todos passaremos, porém, a morte cronológica, aquela que progressivamente segue o desiderato da vida certamente trás sofrimentos e saudades, essas são mais facilmente administradas e superadas. As perdas abruptas, as mortes súbitas, são mais traumáticas e difíceis de serem aceitas e administradas. Como superar as perdas e minimizar sofrimentos? É uma resposta difícil de responder. Cada um tem a sua forma de superação, aqueles que acreditam em outras formas de vida e que um dia irão reencontrar-se, vivem com essa certeza e esperança do reencontro. Uma coisa é certa, se é que existe uma outra vida, todos iremos um dia para lá, ou seja, iremos para o outro lado. Isso me faz lembrar uma mensagem do grande filósofo do cristianismo, Santo Agostinho, que recebi de um amigo, recentemente, após a perda de um ente querido. Dizia ele diante de uma perda humana, “Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do caminho … você que aí ficou siga em frente, a vida continua, linda e bela como sempre. Realmente palavras reconfortantes para quem fica, sabendo que sempre existirá alguém que estará ali pertinho, bem do outro lado de você para recepciona-lo na chagada. É difícil meu amigo, mas todos passaremos como ator ou coadjuvante dessa cena.

 Nossa geração vive um momento que certamente ficará na história da humanidade e servirá para reflexões presentes e futuras, onde cada um de nós revisará hábitos, comportamentos e processos, que provavelmente mudará em muito, a forma do relacionamento humano. Diante de todo esse ambiente, devemos lembrar que não dá para postergarmos, um reconhecimento, um perdão, uma reconciliação, um agradecimento e muitos outros atos que relegamos ou deixamos para resolver mais tarde. Não dá tempo, faça agora, o amanhã poderá não existir para essa atitude.

É isso meu amigo, escrevo essas linhas logo cedinho, quando acabo de receber a notícia da perda de mais um amigo, mais um de muitos entes queridos que certamente está logo ali do outro lado, seguindo os seus novos caminhos.

Simplesmente a vida é assim, tem um começo e um fim. Pelo menos nessa Terra em que hoje habitamos.

 

 

 

 

 

 

 

 

Maciel Matias – Médico mastologista, [email protected]

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