DOCE DE LEITE –

Tem algo mais gostoso que doce? Sou “formiga” desde que me entendo por gente. Amo doces e substituo, facilmente, uma refeição convencional (massa, arroz, carne, feijão) por um bom pedaço de bolo ou uma barra de chocolate. Ou mesmo uma panela de brigadeiro.

Sim, sei que não posso me orgulhar disso, mas estou sendo honesta.

Paladar infantil…

Claro que os doces convencionais (os caseiros) também me conquistam. Doce de jaca, de goiaba ou de caju. Até mesmo o de coco ou o de mamão verde. São maravilhosos, eu sei, mas não chegam aos pés do bendito doce de leite.

Lembro de minha infância e da alegria de comer uma colherada de um bom doce de leite. Vovó Lolô, mãe de meu pai, fazia um daqueles maravilhosos, num panelão imenso e usando colher de pau. Aqueles litros e litros de leite iam ficando cada vez mais minguados, grossos e escuros e, como magia, transformavam-se num doce de leite lisinho e saboroso. Ao visitarmos meus avós, sempre voltávamos com um vidro de doce de leite, um bolo fresquinho e, com sorte!, uma lata de raivinhas que eu já deixava desmanchar na boca no caminho de volta a Natal. Nunca mais encontrei biscoitinhos feitos tão pequeninos e tão macios…

Tia Eliza, irmã de vovó, também era mestre neste doce. Se eu fechar os olhos e respirar fundo consigo me transportar para sua cozinha, de chão rústico e cheiro adocicado. Tia Eliza com um sorriso no rosto mexendo sem parar aquele caldeirão e fazendo um doce delicioso.

Mas, não só de doces perfeitos vive o homem. Mamãe, que não é muito adepta da cozinha, fazia um doce de leite delicioso, após o leite coalhar. Sim, sou da época do “carro do leite”, que passava de manhã carregado de latas e perguntava quantos litros queríamos naquele dia. Às vezes, mamãe dava uma força para a natureza e coalhava o leite usando limão. Ela colocava raspas de limão no doce e eu visitava a cozinha diversas vezes, provando e provando e provando aquele doce cheio de bolinhas deliciosas, clarinho, sem excesso de açúcar, feito com amor.

Essa semana tive saudade deste sabor. Saí com Flavinho e, depois de olhar mil rótulos (doce de leite com coco, com ameixa, com chocolate, com pó de pirlimpimpim…), achei o que eu procurava: DOCE DE LEITE CAROÇUDO! Ri do nome. Peguei o pote de ouro e fomos para casa.

A sensação de comer aquele doce foi maravilhosa.

Já visitei a cozinha algumas vezes para ter certeza de que ele é bom mesmo. E ele é. Mas, não chega aos pés dos doces de minha infância.

Minha esperança é que mamãe ao ler este artigo se anime para coalhar o leite, mexer por muitos minutos a panela e depois me faça uma chamada de vídeo dizendo: fiz doce de leite para você, pode vim buscar.

Esperando ansiosamente por isso…

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Autora de O diário de uma gordinha e Escritora

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