DOE VIDA –

Falar de morte é sempre um assunto áspero de tratar, principalmente, por quem exalta a vida a todo momento. O assunto “morte x vida” veio à baila após o transplante relâmpago de coração do apresentador de televisão Fausto Silva.

Acontece de a rapidez do procedimento que causou estranheza em parte da população do país, vista como privilégio em razão da posição social e financeira do indivíduo receptor do órgão, está mais para regra do que para exceção.

O critério-base é o tempo de fila, porém, há situações nas quais o paciente precisa passar na frente dos demais, em razão da complicação clínica. Em casos menos graves, a espera por transplante cardíaco pode ser de 12 a 18 meses, em média. De 1° de janeiro a 27 de agosto deste ano, 72% dos transplantes foram realizados em menos de 30 dias na fila de espera.

Fausto Silva (73 anos), conseguiu o órgão, 20 dias após ter o nome incluído na lista do Sistema Único de Saúde-SUS, onde ocupava a segunda vaga entre 12 pacientes prioritários.

Ante a recusa do órgão pela equipe médica do número um da lista, Fausto viu-se beneficiado. Na ocasião, esperavam por um transplante de coração 378 indivíduos. A fila única de transplantes é controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes, unidade de saúde vinculada ao SUS. Trata-se do maior sistema público de transplante do mundo.

Vamos aos fatos. O Brasil é o segundo maior transplantador de órgãos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Mesmo assim, 45% das famílias não concordam com a doação de órgãos de seus parentes após morte encefálica. Um dos principais motivos é a falta de informações sobre os procedimentos para doações.

É possível doar coração, pulmões, fígado, os rins, pâncreas, córneas, intestino, pele, ossos e válvulas cardíacas. Um só indivíduo pode salvar até oito vidas. Imaginem: depois de morto você ter o poder de salvar até oito seres iguais a você. Existe compensação maior de que esta, para se deixar o mundo com a consciência tranquila.

Ao pesquisar sobre o assunto, mesmo abjurando falar de morte, eu formei juízo de valor sobre a razão de doar, ou não, os meus órgãos depois de encerrada minha jornada na Terra. Concluí, ser a negativa, uma atitude mesquinha, um comportamento abjeto perante o seu semelhante. Será preferível deixar aos vermes a estrutura sem vida? Ou deixar que o fogo transforme em cinzas seus restos mortais?

O tabu ante a doação de órgãos ainda é muito grande na sociedade brasileira. Os motivos são variados. Já ouvi gente alegar o receio de ainda estar vivo quando da retirada dos órgãos. Ou de ficar com o corpo deformado durante o velório. No fundo se restringe a uma atitude de apego desmesurado a uma carcaça. Comecei a analisar com outros olhos o assunto, quando o meu filho se mostrou adepto da doação.

Existe maneira mais gratificando igual a de saber que uma parte de você pulsa viva no corpo de outrem. Desde já opto por doar vida. E prefiro que o receptor desconheça o doador. Me bastará o reconhecimento de praxe dos profissionais de saúde, no hospital, quando se perfilam ante a passagem do doador.

Basta de morte por hoje. No mais, gente, é apreciar a vida enquanto podemos!

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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