A DOR QUE NÃO CABE NO CORAÇÃO –
(Um tributo a Marilanda Josuá e a todas as mães, cuja dor não cabe no coração)
Um instante, uma fração do “nada”, uma perda, uma dor.
Uma mãe sofrida, um pai recolhido, uma esposa abalada, um filho sem entender.
“- Como?!”
“- A pouco, ele falou comigo!”
Uma lágrima, uma indagação: “Por que, meu Deus?”.
Esse “cenário” expõe um momento de dor. Dor pela perda de alguém gerado no próprio seio. Perda essa, distintamente experimentada e diferentemente absorvida.
Não adianta fazer comparações nem juízo de valor, pois cada uma de nós amealhamos no caminhar da vida, sofreres, alegrias, realizações, privações de toda ordem, que aliada ao nosso espalmar espiritual, ditará o sentimento em um momento de tamanha dor: a perda de um filho.
Por mais que ancoremos apoio, solidariedade e compaixão serão insuficientes para aplacar a saudade ainda por sentir.
Alguém poderia, sem maiores reflexões, alegar que é a vontade de Deus. Não, não se apresse em querer costurar um conforto repassando a Deus esse desvelo.
Claro que nosso destino está em Suas mãos, mas não como um jogo em que Ele lança as cartas aleatoriamente. E mesmo, que ditados pela “razão” ajamos tão simploriamente diante de um fato como esse, em nada faz tal acontecimento menos sofrível. Ou seja: não deduza por Deus.
Daí o cuidado que devemos ter num momento “impar” como esse. Ímpar, não pela singularidade, mas pela dor que não cabe no coração.
Não se afoite em dizer que “foi melhor assim”. Isso é julgamento, não é misericórdia.
Não diga: “Siga em frente”. Isso não é conforto. Certamente haverá momentos em que olhar para trás trará recordações de afeto.
Não diga que “sabe muito bem como ela se sente”. Isso não é verdade, pois a dor é única e indivisível.
Não diga: “Agradeça pelos outros filhos que tem”. Isso não é caridade. Cada filho é uma matriz. Cada um é imagem e semelhança de Deus. Mas, Deus é múltiplo na sua infinitude.
Não diga “que é assim mesmo”, pois uma mãe possui um “radar” no coração e sabe muito bem que não é assim mesmo. Ela sabe que “está sendo assim”.
Não aproveite uma dor aberta para adicionar histórias aparentemente iguais, pois naquela perda mão cabe outro personagem.
Tenha “ouvidos”, para amanhã, escutar lembranças que foram construídas no dia a dia e que agora veem à tona, como um elo inquebrável da maternidade.
A dor é parte do amor, e como tal é preciso maturar.
Não peça para ela esquecer. Ajude-a não ficar parada na estação cotidiana, e sim a transformar os momentos de amor vividos, em combustível para continuar exercendo o plano de Deus na sua vida.
Mostre o quanto o sorriso dela pode ajudar outras pessoas, e não os lamentos infindáveis.
O amor, o aprendizado compartilhado, não é corroído pelas traças.
Não aumente o seu luto.
Luto é um tempo. Tempo de refletir. Tempo de reacomodar. Tempo de reaprender.
Não pode e nem deve se permanente.
Deposite diariamente nas mãos de Deus qualquer sinal de sofrimento pela perda, e Ele retribuirá colocando você no colo.
A saudade é uma presença.
Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil e Consultor ([email protected])