DOUREMOS O CHÃO DE BALÁ –

No país mais limpo do mundo, o Japão, lembrei-me de Acari, a cidade amada de Paulo Balá, eleita a mais limpa do Brasil. Vi a belíssima floração das cerejeiras, árvore símbolo do país asiático. Está escrito que a floração ocorre por uma semana, mas as árvores, que ignoram as letras, ultrapassam os dias, florando. Em Tóquio, caminhamos, sobre pétalas, em uma grande avenida ao redor do Palácio Imperial. Sobre o estreito rio Sen, as copas das árvores juntam-se. A iluminação das margens ajuda a observar o encanto. É a contemplação da beleza. As pétalas falsas (do reflexo) e as verdadeiras, que caem, são levadas lentamente pela correnteza. Novamente me lembrei de Paulo Balá.

Em agosto de 2011, ele escreveu a Woden Madruga dando esta notícia: “É intensa a floração das craibeiras (Tabebuia Aurea). Flores que não chegam a ser frutos, caem dourando o chão”. Woden animava a sua prosa poética e, com exatidão, qualificou: “É um canto de amor à natureza seridoense, sua flora, seus bichos e, no meio deles, o homem”.

Mais adiante na carta, Paulo Balá fala sobre as sementes da craibeira que seu pai, semeador, levava em um bizaco: “O chão que se cobriu de dourado, agora se veste de branco, com uma alvura sem par, bonita mesmo, que nem roçado de algodão-mocó”. Como se sabe, as flores destinam-se à produção de sementes, que vezes são semeadas pelo vento, pelos animais ou pela mão humana.

Logo, imaginei uma avenida de craibeiras em Acari, ladeando um busto de Paulo Balá. Será uma memória vegetal. De tão longe, telefonei a outro acadêmico e amigo em comum, Benedito Vasconcelos, que, imediatamente, ofereceu, à cidade, uma doação de cem mudas da árvore que todo ano se veste de flores amarelas. A força das árvores é que modela o clima. Ajudará os acarienses também em termos de temperatura e é um belo exemplo da urgente impressibilidade de reflorestamento do Seridó. Principalmente com árvore da terra, espécie endêmica brasileira.

Paulo (Balá) Frassinete Bezerra foi um dos grandes homens a ocupar a cadeira número 12 da Academia Norte-rio-grandense de Letras. O seu patrono foi Amaro Cavalcanti, jurista seridoense reconhecido no Brasil. Antecessores, Juvenal Lamartine, que presidiu a Instituição e governou o Estado; seu filho, Oswaldo Lamartine, notabilíssimo escritor e o folclorista Veríssimo de Melo. A sua identificação humana e literária é maior com Oswaldo. Ambos eram inexcedíveis em polir a palavra e a sabedoria do povo dando-lhes sabor erudito.

Com tantas qualidades de médico e escritor, Balá foi um homem simples. É exata a palavra de sua filha Flávia: “Sua grandeza só não era maior do que sua simplicidade”.

Balá deixou grande legado: a sua produção literária, uma bela família, amigos e admiradores devotados, a identificação cultural com a terra.

Quem poderá viabilizar a homenagem idealizada? Imagino que os poderes municipais, Prefeitura e Câmara; as pessoas com vínculo afetivo; o seu sucessor na academia, Clauder Arcanjo, farão florescer a iniciativa.

Na Academia, sua memória sempre viverá em todos e no chão dourável de Acari.

Ernani Rosado explicitou:

“A leitura dos livros de Paulo nos conduz a um mundo ao mesmo tempo real e mágico.

“Lá estão retratados todos os aspectos da vida sertaneja: a paisagem, a vegetação, os hábitos, as crenças e superstições, os acontecimentos; trajes e utensílios, os personagens e o dia a dia de fidelidade total as raízes”.

 

Diógenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

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