DUELO DE INTELECTUAIS –
A luta diária com palavras é função básica de intelectuais, entretanto Carlos Drummond de Andrade diz que é a luta mais vã. Dos profissionais da palavra é esperado o tratamento cordial, gracioso, agradável. Mas nem sempre é o que acontece.
O poeta Drummond trabalhava no MEC de Gustavo Capanema. Apaixona-se por uma secretária chamada Ruth, namorada de Sérgio Buarque de Holanda. Resolveram o domínio amoroso no tapa.
“Otelo, o Mouro de Veneza”, é a tragédia do ciúme, obra-prima de Shakespeare. O estrangeiro general Otelo ama Desdêmona e com ela se casa em segredo. Ele nomeia Cássio como seu tenente. Iago, pretendente ao cargo, sabota o novo tenente, que se vê obrigado a duelar, e inventa uma falsa traição de Desdêmona. A tragédia termina com a morte dos amantes.
A vida imita a arte. Púshkin (1799-1837), o mais aclamado poeta russo, era casado com mulher belíssima, Natália. Comenta-se em San Petersburgo que haveria um laço amoroso dela com o tsar Nicolau I. Mas ele ciúma de George d’ Anthès, estrangeiro francês, tenente da guarda, bonito e elegante. É exasperado quando o invisível Iago lhe manda um pasquim com um “Certificado de chifrudo”. Na Rússia, à época, um duelo era punido com prisão perpétua ou com morte. Mesmo assim, Púshkin desafia o tenente para um duelo e é ferido com um tiro na barriga, morrendo dias depois, antes perdoando o desafiado. Os comentários aumentaram na cidade quando o tsar concedeu à bela viúva uma pensão de dez mil rubros e chamou os filhos dela para trabalhar no seu palácio.
Muitas outras pelejas entre intelectuais registra a história. Ficou famoso o duelo entre Proust e o crítico literário Jean Lorrain que o chamara de homossexual. Felizmente, os dois erraram o tiro. Os dois tinham razão, estimando a homossexualidade.
Assis Cintra, crítico literário e historiador, na época da Semana da Arte Moderna, de 1922, trocou bufetes com o diplomata e escritor Menotti del Picchia por acusá-lo de plágio de uma obra francesa que Menotti nem mesmo conhecia.
Conta-se que Gilberto Freyre haveria impedido a nomeação de Ascênsio Ferreira para a presidência da Fundação Joaquim Nabuco. O gigante Ascênsio não brigou com o mirrado Mestre de Apipucos. A vingança foi, a cada dia, mandar derramar lixo na porta da residência de Gilberto.
Ultimamente, a mídia tem dado destaque à contenda do ciúme entre dois dos maiores escritores latino-americanos, que chegaram a receber o Prêmio Nobel: Gabriel Garcia Marques, Gabo (1982) e Vargas Llosa (2010). Eram amigos fraternos. Os casais embarcaram em cruzeiro marítimo, Gabo com Mercedes e Llosa com Patrícia. Na travessia, o bonito e sedutor Vargas Llosa se apaixona por outra mulher e com ela desembarca. Patrícia retorna com os amigos. Depois, Gabo vai levá-la ao aeroporto para o reencontro no Chile. Galanteador, declara a Patrícia: “Se o avião não decolar, vamos fazer uma festa”. Em Santiago, já reconciliados, a mulher diz ao marido que os amigos dele andam atrás dela, denunciando Gabo. No Festival Literário na Cidade do México, Vargas Llosa dá um soco na cara de García Márquez: “Isso é por você cantar minha esposa”. Os óculos feriram o rosto do romancista que foi tratado com bife de carne verde para não ficar tão roxo. O curioso: mesmo tratamento que se dá no interior do Nordeste.
Vale a pena a amizade com intelectuais, eles iluminam, mas cuidado….
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN