E A ROTINA? –
São quase 17h.
Nos primeiros dias de quarentena era agora que estaria terminando…
Sim, criamos uma rotina dentro do nosso caos e nos acostumamos a ela. Nossos vizinhos se reuniam na varanda até este horário. Eles conversavam, riam, se divertiam. Normalmente era quando eu estava diante do computador (como estou hoje) preparando aulas. E mesmo sem ouvir com detalhes as conversas (ou não conhecer os personagens) as gargalhadas me inundavam de alegria. Às vezes nossa cachorrinha se incomodava e latia, mas isto não impedia as risadas altas, escandalosas, digamos, até contagiantes.
Lembrava minha infância. Casa dos avós paternos. Crianças e adultos sentavam-se em mesas separadas. E a noite os escutávamos contando “causos” da infância. As surras de cinto que minha avó distribuía, os dias de seminário de meu pai, o medo de assombração de vovô, as festas do interior. Muitas vezes eu saía de perto dos primos e ficava sentadinha ouvindo-os falando de pessoas que não existiam mais ou que não se sabia “que fim levou”.
Neste momento eles esqueciam que o tempo havia passado! Não havia a preocupação em ser certo ou errado. Ouvíamos a frase: não foi bem assim, deixa contar minha versão! E desta forma passávamos os veraneios ou os fins de semana prolongados.
Então, a rotina das conversas na varanda dos meus vizinhos tinha para mim um sabor de infância, que eu nem percebia como me fizeram a pessoa que sou hoje. Como sou grata por isso! Porém, elas ficaram raras, curtas e, por fim, acabaram. Não sei em qual momento eles desistiram. As conversas se tornaram escassas, as risadas mais ainda e as gargalhadas… Ah! Estas não escuto faz dias. E isto me faz falta.
Porque em tempos de pandemia, mais do que entender que devemos ficar em casa, precisamos compreender que a casa é nosso melhor lugar, o mais sagrado, o mais agraciado.
Acho que vou jogar um bilhetinho: “Por favor, voltem a conversar! Suas risadas adoçam nossos dias!”.
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Professora universitária