E AGORA? –
Em 1942, Carlos Drummond de Andrade publicou na coletânea Poesias, o poema “José”. Nele, o mineiro de Itabira ilustrou o sentimento de solidão e abandono do indivíduo na cidade grande, a sua falta de esperança e a sensação de estar perdido na vida, sem saber que caminho tomar lançando mão, o tempo todo, do bordão: “E agora, José?”
Se poeta fosse, eu adequaria a obra prima de Drummond para estes momentos terríveis de insegurança que enfrenta o povo potiguar e, particularmente, quem habita a nossa querida Natal. O bordão “E agora, José?” cai como uma luva para retratar o clima de desamparonuma cidade sob o domínio do medo.
E agora, José?A escola fechou,
O mercadinho também.
Incendiaram “busões”,
Como vais trabalhar.
E agora, José?
A tensão aumentou,
Até dá medo falar.
Sem gente nas ruas,
Ninguém vai ao mar,
Ou a qualquer prazer vulgar.
E agora, José!
E agora, José?
O que pensas fazer,
Sem idas ao bar,
Parou de caminhar,
Nem à igreja rezar.
E agora, José?
Somente apreensão,
Na inversão de valores.
O malfeitor na rua
E famílias presas no lar
Só nos resta lamentar.
E agora, José?
Sim. E agora? A quem culpar? A quem apelar? A quem pedir socorro para voltarmos a viver em paz, sem fogo nas ruas, sem balas rasgando o ar sobre as cabeças decidadãos de bem que pagam impostos para ter segurança. É inconcebível que isso esteja acontecendo neste paraísode sol, de mar e de ar mais puro das Américas.
Certamente, a falta de proteção adequada ao potiguar afetará a imagem de nossa capital e do estado no país e no exterior, abalando a sua mais importante fonte de renda: as viagens de prazer. O incêndio a ônibus turísticos foi um choque grande para essa indústria em franca expansão no nosso Rio Grande do Norte. Em breve sentiremos na pele o baque nas finanças públicas decorrente dos inimagináveis atos terroristas que vivenciamos.
Eita-pau! E agora, José?
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil