Estudar idiomas é um hobby que pratico todo santo dia. Comecei com o aprendizado do inglês, ainda rapazinho. No SCBEU, com o professor Protasio Melo. Fiquei por lá uns seis anos. Fiz o curso formal. Mais um outro sobre literatura inglesa. Uma convivência tão longa que, de professor, ele virou um amigo querido pro resto da vida. O método primava pela ortodoxia. Árduo, árido, e numa certa medida, enganoso. Na base de duas aulas semanais com duração de uma hora. Nelas nos ensinavam muita gramática, detalhes de conjugação de verbos irregulares, expressões idiomáticas…; mas na hora do “pega pra capar”, o cérebro sempre trabalhando simultaneamente a versão em inglês do que chegava à nossa cabeça em português. Alinhavávamos conversas ligeiras nas salas de aula e nos corredores da escola. E morriam lá, as nossas tentativas de dominar o idioma. A situação na Aliança Francesa foi idêntica. Afinal, era, e ainda é, impossível falar algo que não seja o português nas ruas de Natal. Tanto é verdade que ao concorrer a uma vaga para fazer uma pós graduação “latu sensu “ no Reino Unido; após ser aprovado nas entrevistas de seleção na UFRN (em português), e nas avaliações do TOEFEL e do British Council, achei que estava com a bola toda. O primeiro choque quando lá cheguei, ao ligar a TV, foi constatar que a minha compreensão era mínima. Fazer compras era fácil ; só associar o nome em inglês à imagem do produto desejado. Na sala de aula, até que dava pro gasto. Os caras falavam lento, bem compreensíveis num inglês de boa casta e qualidade. E nas suas conversas por fora conosco, minimalistas. Resumo da ópera. Foi muito difícil no início. Redigia pouco a pouco a tese pensando em português; vertia pro inglês e ia discutir com o orientador. A regra era voltar com o texto excluído em dois terços, sempre com aquela sugestão educada dele. De tentar reescrever mais uma vez, sob a alegação de que tinha gostado, mas o estilo muito “floreado”, muito “latino”. Mas consegui: o título acadêmico; e falar razoavelmente o idioma. A sequela, inevitável, foi eu nunca ter entendido bem o papo que o limpador das lareiras da minha casa tentava entabular comigo.
O espanhol me chegou “à força”. Por pura obrigação e necessidade. Quando comecei o meu curso de Medicina aos 18 anos a maioria dos tratados só era disponível em língua espanhola. A gente lia e vertia ao mesmo tempo para o português. Coisa fácil de fazer devido a proximidade de ambos os idiomas. Mas restou uma cicatriz que que não é qualquer “plástica” que remove: o fato de escorregar muitas vezes pro “portunhol”, quando falo. A atividade intelectual intentada desta forma não implica, nem gera, bom conhecimento ou, como diria, uma “reflexão” linguística honesta. Ficou a impressão que o buraco deveria ser mais embaixo. E é. Foi quando, anos antes da pandemia , descobri um linguista norte americano, Stephen Krashen, considerado papa no assunto. Ao lê-lo comecei a ver um pouco a luz no fim do túnel. Diz ele que para se aprender qualquer idioma é necessário uma imersão básica, guardadas as respectivas proporções, como fazem as crianças e os analfabetos. Atentar para o som das palavras. E a formatação das frases como é falada em cada idioma. Para os adultos, nada de formular frases baseadas na forma utilizada em sua própria língua. Segundo o professor Krashen não é difícil, como se poderia imaginar. A gramática, como sendo o conjunto das regras que determinam as diferentes possibilidades de associação das palavras de uma língua para a formação de enunciados concretos, no início complica. E a sintaxe própria de cada língua impede que sejam realizadas apropriadas combinações aleatórias entre as palavras.
Tenho seguido diuturnamente essa trilha nesses últimos anos; através do curso “Walk and Talk” disponível de forma gratuita em vários idiomas, no Spotfy e no YouTube. E me dei bem. Consigo me fazer entender quando viajo, ler livros e jornais, ver os noticiários diários e muitos filmes sem legendas, em quatro idiomas. O novo sempre vem. Questão só de utilizá-lo com ordem, método e persistência. Fica aqui a dica.
José Delfino – Médico