E O OSCAR VAI… –
Acho que assim como grande parte dos brasileiros, estávamos nós, no último domingo, vendo a cerimônia de entrega do Oscar. Já foi o tempo que assistíamos a praticamente todos os filmes e torcíamos por um ou por outro. Hoje escolhemos alguns para ir ao cinema, outros para aguardar a saída nos streamings e outros… outros nem tenho ânimo para ver. Parece mais do mesmo…
Mas… Ainda estou aqui? Claro que foi na telona! Passei alguns dias tentando digerir o filme. Certos filmes e livros fazem isso comigo. Eles terminam materialmente, mas fazem eco por dias ou semanas dentro de mim. Fico cheia de “e se…” ou “por quê?” E isto vai me consumindo lentamente, durante as pausas para um café, no banho ou no trânsito. Quando menos espero… estou refletindo sobre eles.
Foi isso com Ainda estou aqui. Lembro de ler Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva, ainda em minha adolescência e, como muitos, engatei em livros como “1964 a o ano que não terminou”, de Zuenir Ventura.
Eu queria entender mais sobre este período sombrio de nossa história. Até hoje sinto que não compreendo… Via o lado das vítimas diretas, imaginando seus medos diante das atrocidades e, enfim!, agora, com o filme, pensei nas outras vítimas com mais atenção. As famílias, os amigos, a obrigatoriedade do silêncio.
Que silêncio é esse???
Senti como se o silêncio tivesse sido quebrado ali, na minha frente, na tela do cinema. Via a casa como um personagem sofrido, a família como pequenos cacos tentando se encontrar para reconstruir sua estrutura.
Por isso, ao ver sua indicação ao Oscar pensava que tinha uma parte nossa competindo. Mas, mais do que isso, se expondo! Tirando a poeira de sob o tapete e mostrando o piso arranhado, descascado, lascado, mas ainda um piso.
Ganhamos o melhor filme estrangeiro. Fomos reconhecidos como arte.
Talvez o maior ganho não receba estatueta. E isso não importa. O maior ganho é fazer com que esta história não seja engavetada, mas, sim, revisitada por todas as gerações vindouras, conhecendo nosso passado e procurando fazer com que ele não se repita. Porque várias Marias, Josés, Anas e Antônios foram representados ali.
E eles merecem ser ouvidos.
Mesmo – ou principalmente – depois de tantos anos…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, autora de “O diário de uma gordinha” e Escritora