É QUE SOU DESSAS! –
Corpo gordo e de meia idade pode usar tomara que caia? Pooooooooooooode!
Sim, eu uso croppeds, vestidos e blusas com ou sem alças, tomara que caia, biquínis, saias e shorts curtos e o que mais me der na telha. É que sou dessas que não está nem aí para a opinião dos outros, que não dá a mínima para os padrões de beleza impostos pela sociedade. Sou dessas que aceita e ama o corpo que tem, buscando todos os dias fazer as pazes comigo mesma, num processo de reencontro com a melhor parte que habita em mim.
Cinquenta e dois anos de idade, sempre fui gorda, sempre ouvi que tinha um rosto lindo, mas precisava emagrecer. Tentei muitas vezes, confesso, algumas vezes até consegui, no entanto, o efeito sanfona sempre me acompanhava. Desencanei. Meu biótipo corporal nunca foi e nunca será de uma pessoa magra, e eu sou feliz por ter entendido que não é sobre o que está posto fora e sim sobre o que carregamos na alma, no nosso coração. A beleza interior ultrapassa qualquer tipo de cirurgia plástica, pois ela é espontânea e natural. Tem coisa mais bonita do que uma alma leve, alegre e de bem com a vida? Eu desconheço.
Mulher, meia idade, nordestina e gorda, quer mais? Pois bem, desde que chutei o pau da barraca, que sinto minha liberdade evoluir gradativamente. É um processo? Sim, afinal tudo que fazemos na vida faz parte de um processo, e que bom que entendi os meus processos de desconstrução, reconstrução e construção. Empoderada que chamam? É que sou dessas!
A discussão sobre nossos corpos é realmente um tema complexo, o que não deveria ser, dado que afronta nossa liberdade de sermos quem somos e o que queremos ser. Essa discriminação baseada no peso, também conhecida como gordofobia, é cruel, preconceituosa e discriminatória; podemos perceber claramente em nosso cotidiano, por meio da desvalorização, humilhação, inferiorização, ofensas e até restrições impostas a nós. Violência institucionalizada.
Não podemos aceitar qualquer tipo de violação de nossos direitos; sim, devemos combater esse tipo de preconceito e promover a aceitação e inclusão de todos os tipos de corpos, sejam gordos ou magros. O direito à autonomia corporal é fundamental para a nossa liberdade e dignidade, precisamos instigar a igualdade de gênero e o respeito pelos direitos das mulheres.
É importante ressaltar que não se trata apenas de reconhecer a autonomia corporal, pois esta não se limita apenas à saúde reprodutiva, vai muito mais além, abrange também a liberdade de expressão da sexualidade e a capacidade de tomar decisões informadas sobre o próprio corpo.
Atualmente, é possível ver através das redes sociais o ativismo gordo como forma de combater a gordofobia e romper com os paradigmas corpóreo-sociais e, antes que o tribunal social diga que estamos romantizando os corpos gordos, é preciso que deixemos bem claro que combater a gordofobia não é romantizar a obesidade. Isso é uma outra história. Esse tipo de fobia é tão nocivo quanto todos os outros; nesse caso, é uma agressão a nós, uma violência física e psicológica que sofremos dia após dia, dentro e fora de casa.
A grande questão aqui é atentarmos sobre valorizar a diversidade de corpos e promover a inclusão e o respeito. Simples assim! Deixemos de lado as pressões sociais e culturais e cuidemos em incentivar, influenciar a aceitação e o empoderamento de nós mulheres, construindo uma rede de proteção e acolhimento, entre homens e mulheres, sem discriminação de gênero, apenas sendo humanos e diversos.
Precisamos urgentemente dar voz às nossas experiências e fortalecer o movimento pela autonomia corporal das mulheres, sejamos novas, velhas, gordas, magras, nordestinas ou sulistas. O que não podemos perder de vista é o nosso direito de sermos o que somos e queremos ser, pois lugar de mulher é onde ela quiser e como quiser.
Há, e antes de terminar minha crônica desta semana, não esqueçam que NÃO É NÃO!
É QUE SOU DESSAS!
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora dos livros As esquinas da minha existência e As Flávias que Habitam em mim, flaviarruda71@gmail.com
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