E SE… –

E se eu tivesse ficado para o carnaval? E se eu tivesse me separado na primeira discussão? E se eu tivesse ficado na mesma cidade? E se eu tivesse feito dieta? E se eu tivesse desistido no primeiro obstáculo? E se eu tivesse rasgado meus rascunhos?

E se… É um exercício metafísico natural, creio eu. São tantos “ses” que sequer conseguiria enumerar, só sei que são incontáveis às vezes que exercitei, pensando: e se eu tivesse feito diferente, o que teria acontecido? Não faço a menor ideia. Perguntas assim não tem respostas exatas, apenas conjecturas, pois bem, não há como não pensar no que não se viveu, no entanto, só as suposições e as reviravoltas de certas tomadas de rotas nos são permitidas vivenciar.

Já remoí e regurgitei algumas decisões, diante do famigerado “e se…” Quem nunca, não é mesmo? De certo, algumas rotas foram acertadas, ajustadas, enquanto outras nem tanto. O fato é que não há como voltar atrás, ou melhor, tem coisas e situações que precisam ficar lá na esquina que dobramos, deixando que a vida siga e nos diga como foi importante, ou não, certas audácias.

Lembro do dia em que decidi voltar do Rio de Janeiro, em plenas férias de verão, isto, com tudo programado para ver o carnaval na Sapucaí. Não posso dizer que foi uma decisão difícil de tomar diante do contexto, no entanto, é lógico que eu fiquei um pouco chateada, afinal, o carnaval estava chegando e eu estava na cidade onde acontece o maior carnaval do mundo.

Hoje eu sei que não ter ficado na cidade maravilhosa, em pleno carnaval, foi a melhor coisa que aconteceu. Na época, retornei com uma prima querida, que cismou em passar o carnaval na praia de Tibau/RN*, mais conhecida como “a praia dos mossoroenses”. Seu coração estava lá e falou mais alto, eu a apoiei.

Decidi acompanhá-la numa viagem de três dias de ônibus, éramos adolescentes, mulheres e nordestinas, não poderia deixá-la enfrentar sozinha um trajeto longo com pessoas desconhecidas, meu coração mandou a minha razão ir passear bem longe, voltamos, seguimos nossas vidas sem ter visto as escolas de samba desfilando na avenida, e sim, foi a melhor coisa que não me aconteceu, considerando que anos depois ela veio a falecer num trágico acidente.

Sim, eu tomei a decisão certa, pude demonstrar nessa ação o quanto me importava com ela, era sobre o seu valor para mim, acho que validamos nossa amizade, selando os laços familiares com amor e cuidado. Ellen sempre foi uma prima/amiga incrível, o que fiz foi apenas retribuir o que sempre recebi dela: apoio, carinho, amizade e importância. Sou muito feliz, não me canso de agradecer por não ter estado na Marquês de Sapucaí, no Sambódromo Professor Darcy Ribeiro, presenciando o grande espetáculo, o Carnaval do Rio.

Gostaria de ter dito a Ellenlucy Mota, minha prima querida, minha grande amiga, que quando olho para trás e me dou conta que as coisas e pessoas que ajudam a construir minha vida, meu caráter, meu ser, são peças fundamentais que compõem a minha história, fico feliz por ter permitido que ela entrasse e saísse no início e meio das minhas andanças, afinal, a nossa jornada é e sempre será solitária, a vida apenas nos empresta oportunidades e companhias para que a caminhada se torne agradável. Obrigada por ser parte da minha vida.

“Às vezes, quando a gente perde, a gente ganha …” (Filme Amor Além da Vida)

*Nota:  Município brasileiro, localizado na extremidade setentrional do estado do Rio Grande do Norte. Integrante do Polo Costa Branca, localiza-se a noroeste de Natal, capital do estado, distando desta 323 quilômetros. Ocupa uma área de 169,237 km² e sua população estimada em 2019 era de 4 106 habitantes.

 

 

Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência, [email protected]

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