Os descontentes com a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que limita os gastos públicos à inflação do ano anterior se somam a uma massa de 12 milhões de desempregados e contribuem para elevar a temperatura social do País. O caldo vem esquentando com os sinais enviados por parlamentares de que estão mais preocupados em se salvar de eventuais sanções do que contribuir para o País voltar aos trilhos. A manobra para desfigurar o pacote anticorrupção causou revolta de internautas e originou as manifestações do domingo. Tudo isso nos mostra que a crise nacional é mais profunda e duradoura do que se imaginava. E o IBGE, ao divulgar a sétima retração seguida do PIB, com queda de 0,8% no terceiro trimestre, escancarou o quadro de fragilidade da nossa economia. Até a eleição de Trump nos Estados Unidos também piorou as projeções para os juros básicos, contaminando as perspectivas de crescimento do Brasil.
Após quase três anos mergulhados num cenário devastado, empresários, trabalhadores e consumidores voltam a se perguntar: quando o País finalmente sairá de uma das piores recessões da história? Diante dos fatos, é certo que a recuperação será mais lenta e foi atrasada em dois trimestres, pelo menos. É consenso que o avanço só se dará a partir de julho do ano que vem. E também há ainda um efeito estatístico que contamina as previsões para o dado fechado do próximo ano. A recessão de mais de 3% prevista para 2016 deixará um impacto negativo de até 0,7%. Isso significa que, se não houvesse crescimento em nenhum trimestre de 2017, o PIB final mostraria uma queda de 0,7%. Por isso uma onda de revisões foi deflagrada entre as principais consultorias e bancos do País, após o IBGE divulgar a queda de 0,8% no terceiro trimestre, em relação ao trimestre anterior.
Se a crise política não se agravar, uma retomada moderada no ano que vem será sustentada por fatores como a queda tímida dos juros, a redução dos níveis de estoques em alguns setores, a diminuição no nível de endividamento e uma inflação mais branda, convergindo para o centro da meta, de 4,5%. O investimento, uma das principais fragilidades e âncoras da recessão até agora, deve finalmente reagir. Os empresários devem voltar a mobilizar recursos aos parques fabris e em novos projetos à medida que diminua a taxa de juros e que diminua também o temor de que a economia desandará. E isso depende, em boa medida, da capacidade do governo em avançar com a agenda de reformas. Hoje o Brasil está no topo da lista dos países com o maior juro real do mundo. Infelizmente, o fato, lamentável, é que a economia brasileira está atualmente na corda bamba.