EDGAR MORIN UM ÍCONE DA EDUCAÇÃO –

A milenar Paris (Lutetia) continua a brindar-nos com os pensadores que ousam o Amanhã, refletindo o Ontem e a pensar soluções, mostrando-nos que o heleno Heródoto- Pai da História-, avançava no tempo, ensinando-nos acerca da compreensão do mundo.

O que acontece agora não é fruto do acaso, do fortuito, mas tem causas antecedentes e resultados posteriores.

O quase centenário Edgar Morin em sua lúcida e instigante senectude, oferta-nos esta reflexão, que merece releitura e análises.

Eis alguns tópicos de sua magistral  e atualíssima fala acadêmica.

“Surpreendi-me com a pandemia, mas em minha vida estou habituado a ver chegar o inesperado.

A chegada de Hitler foi inesperada para todos. O pacto germano-soviético foi inesperado e inacreditável. O início da guerra da Argélia foi inesperado. Eu só vivi pelo inesperado e pelo hábito com crises. Nesse sentido, estou vivendo uma crise nova, enorme, mas que tem todas as caraterísticas da crise. Isto é, de um lado suscita a imaginação criativa e, de outro, suscita medos e regressões mentais. Buscamos todos a salvação providencial, só que não sabemos como.

É preciso aprender que na história o inesperado acontece, e acontecerá de novo.

Pensamos viver certezas, com estatísticas, previsões, e com a ideia de que tudo era estável, quando já tudo começava a entrar em crise. Não nos demos conta. Precisamos aprender a viver com a incerteza, isto é, ter a coragem de enfrentar, de estar pronto para resistir às forças negativas.

A crise nos torna mais loucos e mais sábios. Uma coisa e outra.

Grande parte das pessoas perde a cabeça e outras tornam-se mais lúcidas.

A crise favorece as forças mais contrárias. Desejo que sejam as forças criativas, as forças lúcidas e as que buscam um novo caminho, aquelas a se imporem, embora ainda sejam muito dispersas e fracas. Com razão podemos nos indignar, mas não devemos nos trancar na indignação.

Há algo que esquecemos: há vinte anos começou um processo de degradação no mundo.

A crise da democracia não é apenas na América Latina, mas também nos países europeus. A dominação do lucro ilimitado que controla tudo está em todos os países. Idem a crise ecológica. O espírito deve enfrentar as crises para dominá-las e superá-las. Do contrário somos suas vítimas.

Vemos, hoje, instalarem-se os elementos de um totalitarismo. Este, não tem mais nada a ver com o do século passado. Mas temos todos os meios de vigilância a partir de drones, de celulares, de reconhecimento facial. Existem todos os meios para surgir um totalitarismo de vigilância. O problema é impedir que esses elementos se reúnam para criar uma sociedade totalitária e invisível para nós.

Às vésperas dos 100 anos, o que posso desejar?

Eu desejo força, coragem e lucidez. Precisamos viver em pequenos oásis de vida e de fraternidade.”

 

 

 

 

José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília

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