EDUCAÇÃO SEM RUMO… – José Adalberto Targino

EDUCAÇÃO SEM RUMO… –

Vivemos uma época desregrada, mas encharcada de valores efêmeros. Na volatilidade da sociedade atual, pesos e medidas são instantaneamente dissolvidos e termicamente evaporados. O mundo está fragmentado e precisa urgentemente ser reeducado a conviver em harmonia com os bens enaltecedores de uma civilização igualitária e mais humana.

Há um patético e crescente recolhimento ao instinto animal, de retrocesso à era do primitivismo. Ao agir como macaco, o homo sapiens não mais se diferencia das feras, dos selvagens, dos animais irracionais… Deve reaprender a lição que lhe deu a natureza, ao longo de mais de quinhentos mil anos de evolução biológica, e repensar o modelo social daí decorrente.

As pessoas – de um modo geral e independentemente de posições geográficas, papéis sociais, guetos culturais ou células econômicas a que pertençam ou representam – estão dizendo “não” ao diálogo, à emoção, ao sentimento e à própria razão lógica… De forma automática e condicionada, caminham como se fossem robôs de uma linha de montagem de uma fábrica capitalista, em direção às aspirações materialistas programadas por sujeitos mentecaptos e cérebros corroídos, por mentes cirróticas. Quando acordarem da vacuidade desse pesadelo, vão sentir o cansaço do vazio. Diante do nada irão dispor, além do desejo mórbido de experimentar  prazeres mundanos, nos quais poder e fortuna se acasalam em concubinato contra o bem-comum.

Nesse contexto, os meios se confundem com os fins, causa e efeito se misturam e o mal quase sempre vence o bem. A inversão de valores reflete o tufão de uma sociedade consumista e globalizada, onde os interesses maiores de seus indivíduos-partícipes gravitam em torno da força bruta e cuja consciência está prestes a desabar sob as ruínas de um cenário fraudulentamente arquitetado. Enquanto isso, os atores coadjuvantes, personagens secundários desse teatro de fantoches, tentam convencer e converter os ainda não adeptos ao ideologismo sofismático de suas alienações hegemonizacionistas.

Esta, lamentavelmente, é a ótica da realidade catastrófica com que nos deparamos. É o homem sendo draconianamente tragado e engolido – no corpo, na alma e nos seus mais nobres valores intrínsecos – pela ambição, ganância e outras figuras típicas de uma competição espúria.

Na mesma cordilheira, insere-se a Escola (leia-se ensino de 1º, 2º e 3º graus), como principal instituição representante da criação do homem, que sofre constante e peremptoriamente as conseqüências nefastas manifestadas por este sistema estático e viciado. Ao desvirtuar seus objetivos finais, descaracteriza os modos dinâmicos e passíveis de um comportamento casto. E eu senti essa realidade em mais de 20 anos de magistério secundário (2º g) e superior.

Todos os anos, milhares de vestibulandos buscam um lugar ao sol, para, depois de longa e tenebrosa ociosidade sentados na sombra afrescada dos bancos acadêmicos, engrossar o contingente de desempregados já existentes. Nessa corrida espermaticida, apenas um por mil tem reais possibilidades de sobreviver no acirradíssimo mercado de trabalho que o espera. Os demais, tal qual o óvulo de uma rapariga, como dizem os portugueses, serão menstruanualmente lançados ao lixo capitalista, ora como reserva de mão-de-obra barata, ora como refugo marginal, sem direito a nenhuma utilidade prática ou teórica.

A universidade, desse modo, com raras exceções, deixou de ser um núcleo de sabedoria propulsora e produtiva de discussões sociais, econômicas e políticas, para se transformar (em muitos casos) em empresa que vende caros diplomas de ilusões fraudulentas (o ensino-apredizagem não se concretiza), para satisfazer vaidades de alguns jejunos intelectuais que se transformarão, na sua maioria, em médicos carniceiros, filósofos bufões, professores de generalidades nulas, advogados de causas perdidas, odontólogos de banguelas e por aí vai…

Então, se a Escola, depois dos pais (neuróticos, subprodutos desse mundo louco), tornou-se vendilhona da pátria, se os filhos da nação caminham sem rumo, se homens públicos vendem a consciência (por propinas, mensalão, mesadas, superfaturamento, subfaturamento…) e todos se agarram ao ter e ao poder a qualquer preço, resta-me, perplexo e desolado, diante do apocalipse social, dessa comédia humana, parafrasear o inexcedível Shakespeare: ser ou ter, eis a questão… ou como Custódio Bouças: “quando a educação perde o rumo, a sociedade descaminha…”.

 

 

José Adalberto Targino Araújo – Procurador do Estado, Pedagogo e pós-graduado em Comunicação Educacional

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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