O chefe do tráfico mexicano “El Chapo” Guzmán, durante anos o homem mais procurado pelos Estados Unidos, viveu o seu pior pesadelo atrás das grades: será julgado a partir de segunda-feira (5) em um tribunal federal do Brooklyn e pode ser sentenciado à prisão perpétua.
Preso há quase dois anos em Manhattan, praticamente em total isolamento, não pode ver sua esposa Emma Coronel nem nenhum parente, exceto suas filhas gêmeas de sete anos, e somente através de um vidro.
Com o cabelo raspado, sem bigode e usando um traje de presidiário azul, El Chapo, de 61 anos, perdeu muito de sua aura de implacável chefe do tráfico, e aguarda seu julgamento “tão esperançoso quanto pode estar”, segundo seu advogado Jeffrey Lichtman.
O acusado perdeu peso e assegura ter problemas de saúde. Em sua única comunicação direta com o juiz Brian Cogan, em uma carta enviada em fevereiro, disse que sofre “muitas dores de cabeça todos os dias. Vomito quase todos os dias. Não consertei dois dentes e me doem muito”.
“Se não está muito frio, faz calor demais” na cela, escreveu o acusado de traficar mais de 155 toneladas de cocaína aos Estados Unidos, além de muitas toneladas de heroína, metanfetamina e maconha ao longo de 25 anos. “É uma tortura de 24 horas a cada dia”.
Joaquín Archivaldo Guzmán Loera nasceu em 4 de abril de 1957 em uma família humilde em La Tuna, pequeno povoado rural de Badiraguato, no pobre e violento estado de Sinaloa.
Em um encontro clandestino em outubro de 2015, contou ao ator americano Sean Penn que, quando criança, vendia laranjas, refrigerantes e doces para ajudar sua família, que era “muito pobre”.
Mas devido à “falta de oportunidades”, aos 15 anos já cultivava e vendia maconha e papoula, um negócio que florescia em seu povoado agrícola.
Adolescente, foi recrutado pelo chefe do cartel de Guadalajara, Miguel Angel Félix Gallardo, e quando este foi preso em 1989, fundou com três sócios o cartel de Sinaloa, que cresceu de forma metórica até se tornar o maior do mundo.
Com o passar do tempo, se tornou o traficante de drogas mais procurado do mundo, acusado de enviar entorpecentes da América Latina para Estados Unidos, Europa e Ásia.
Inclusive a Forbes reconheceu o seu sucesso e, até 2013, o colocou por vários anos em sua famosa lista de bilionários, estimando a sua fortuna em um bilhão de dólares.
Embora em seu estado de Sinaloa tenha criado uma imagem de Robin Hood, fazendo muitas obras sociais para a população local, El Chapo era considerado impiedoso com rivais e traidores.
Mas a partir de 1993 a situação começou a se complicar e, em junho daquele ano, foi detido pela primeira vez, na Guatemala, e levado para uma prisão mexicana.
Mas fugiu oito anos depois, em 2001, dentro de um carrinho de roupa suja.
Voltou a ser preso em fevereiro de 2014, quando estava com sua esposa e filhas em Mazatlán, Sinaloa. E, novamente, fugiu 14 meses depois por um túnel de 1,5 km cavado sob o ralo do chuveiro de sua cela.
As autoridades dizem que sua queda pela atriz mexicana Kate del Castillo, com quem trocou mensagens sugestivas e que conseguiu o encontro entre El Chapo e Penn, levou a sua localização e prisão final em janeiro de 2016, até a sua extradição aos Estados Unidos um ano depois.
Fonte: France Presse
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