Após mais de duas semanas ausente do trabalho, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, retornará ao Palácio do Planalto na segunda-feira, envolto em um clima de inquietação que toma conta do governo. A tão temida lista enviada ao Supremo Tribunal Federal com os pedidos de investigação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, é esperada para o início da semana que vem. A expectativa é de que Padilha seja alvo de um pedido de abertura de inquérito. O ministro, porém, deverá dar o tom que o presidente Michel Temer tem pregado: de que o governo não pode parar. Por isso, e para evitar o foco nas investigações, começará a tocar as negociações para aprovar a reforma da Previdência tão logo chegue a Brasília.
Padilha passou por uma operação para retirar a próstata em 27 de fevereiro. Ficou internado em um hospital em Porto Alegre até a última quarta-feira. Por ordens médicas, o ministro só foi autorizado a viajar na segunda. Pela manhã, ele chegará a Brasília e já tem uma série de reuniões agendadas ao longo do dia com a equipe, para tomar pé da situação. Na última semana, o presidente promoveu um jantar com ministros e aliados para discutir a reforma da Previdência, da qual Padilha é o principal articulador. A expectativa é de que a chamada lista de Janot inclua pedidos de abertura de inquérito contra integrantes do núcleo duro do Planalto. Entre eles está o próprio Padilha, além do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Wellington Moreira Franco, e de líderes do governo, como o senador Romero Jucá (PMDB-RR). O ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, também pode ser alvo de pedidos de investigação que serão entregues ao Supremo.
Apesar de mencionados, os ministros devem inicialmente permanecer no cargo. Temer estabeleceu uma linha de corte sobre o que fará depois da lista. Se o integrante do governo for denunciado, deverá ser licenciado por tempo indeterminado. Se virar réu, o afastamento passa a ser definitivo. Apesar da nuvem de apreensão, interlocutores do Palácio do Planalto garantem que o presidente está tranquilo, focado em tocar as matérias econômicas e criar agendas positivas. Diversos integrantes do governo e o próprio presidente foram citados em delações premiadas de executivos da Odebrecht. Uma delas aponta o envolvimento de quase toda a cúpula do PMDB em um esquema de pagamento de propina para desvio de dinheiro da Petrobras para aprovação de projetos no Congresso e doações de campanha.