O movimento antitransfobia tem ganhado cada vez mais destaque na sociedade e, consequentemente, na universidade. Diante dessa realidade, o “Existências” desenvolve atividades articuladas com o ensino, pesquisa e extensão, junto à comunidade, fomentando a cultura dos Direitos Humanos, de afirmação da diversidade sexual e de gênero.
A transfobia consiste na aversão ou discriminação contra a população trans e se revela uma realidade cruel, podendo levar à evasão escolar e à dificuldade de inserção no mercado de trabalho.
Maurício Cirilo Neto, que também é mestre e doutorando em psicologia, conta que o projeto da universidade “produz impacto acadêmico e social, contribuindo para a formação dos alunos no âmbito profissional e de pesquisa” e ainda oferece atendimento psicológico, psicossocial e de articulação da rede de atendimento e garantia de direitos.
Sobre a situação de vulnerabilidade social das pessoas trans, cuja expectativa de vida é de apenas 35 anos, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) apontou que o Brasil é o país que mais mata esses cidadãos. Pelo menos 140 pessoas trans foram assassinadas no Brasil em 2021, sendo 135 travestis e mulheres transexuais e cinco homens trans e pessoas transmasculinas. Os dados foram publicados no dossiê “Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras em 2021”, divulgado no dia 27 de janeiro pela associação.
Devido a toda a conjuntura discriminatória, Maurício endossa a importância do projeto “Existências”. Ele justifica que parte de uma demanda da sociedade atual, a qual deve proporcionar o acolhimento da pessoa trans.
Ainda de acordo com o coordenador, os estudantes de psicologia precisam estar preparados para atender esses pacientes da maneira adequada. “Isso é possível quando há um entendimento de que ter uma identidade de gênero diversa daquela que foi designada no nascimento não é um problema, uma doença. Problema é a configuração da nossa sociedade, cujos processos de estigmatização e discriminação excluem as pessoas trans ao longo da vida. Para os futuros psicólogos, é preciso se aprofundar nessa problemática a fim de melhor acolher”, garante.
Thaynna Dantas, de 33 anos, é considerada a primeira atleta trans fitness de renome do Brasil e sagrou-se por cinco vezes campeã do prêmio musa fitness. Em dezembro de 2021, a natalense chegou a ficar duas semanas sem ir para a academia em decorrência de ataques transfóbicos que sofreu após participar da formatura militar do seu noivo, Lucca Michelazzo, na Escola de Sargentos da Infantaria (ESA).
Durante o evento, a fisiculturista postou uma foto nas redes sociais colocando o quepe de comemoração no noivo. Uma semana depois, apareceram mensagens no celular dela com um áudio encaminhado contendo transfobia, junto com imagens explícitas de Thaynna, em um ensaio pago feito há sete anos, além da foto postada no Instagram na formatura do noivo. Ela denunciou o caso à polícia. O caso repercutiu nacionalmente.
“Atitudes transfóbicas não podem ser cometidas. Por isso, iniciativas como o projeto Existências são tão importantes, seja para ensinar ou acolher pessoas trans”, lembra Maurício Cirilo Neto.