EM PLENO RELÂMPAGO –

Comecei na direção e acabei em pleno relâmpago. Uma viagem pelo mundo da inteligência fulgurante. Naveguei, guiado por um jovem repórter com idade entre 18 e 60 anos, pelas mentes mais privilegiadas. O livro de Sanderson Negreiros – Na direção do relâmpago ( Edfurn, 2001, 274 páginas) – é leitura indispensável para aqueles que desejam conhecer incomensuráveis figuras humanas, entrevistadas com sutileza, verve e profunda sensibilidade por esse primo poeta.

O começo é com Alvamar Furtado e Grácio Barbalho em viagem pela Europa num encontro inesperado com Newton Navarro, no Rocio, em Lisboa. Alvamar diz que advogar em Natal nos anos 40 era um esforço, isto é, um instante para se arrepender.

Da Autoperfeição com Hatha Ioga, do professor Hermógenes, passando pelo ex-governador José Varela e por Manuel Rodrigues de Melo, ex-integralista, construtor incansável da sede da Academia Norte-rio-grandense de Letras (ANL), no auge dos seus 51 anos, chegamos a Mário Moacir Porto, paraibano e potiguar, que nos revela: Direito é algo mais para se sentir do que para se dizer e, mais que tudo, uma obra de arte. Reproduzir com a máxima fidelidade não é revelar com a máxima perfeição. Se assim fora o artesanato dos fotógrafos teria liquidado a arte dos pintores.

Francisco Ivo Cavalcanti relampeja aos 82 anos, professor que fora de Câmara Cascudo e fundador da ANL. O trovão, desafiando a física, precede a claridade e nos defrontamos com Mozart Romano, com 42 anos, de graça. Íntimo do Presidente Café Filho, ao ponto de ser conhecido no Palácio do Catete como pavão de gabinete. Mozart foi a Niterói para, em nome do Presidente, coroar a rainha dos estudantes inapiários. O que ao repórter soou como qualquer coisa relativa a abelhas. Mozart não admitia coreto sem retreta nem governador sem a tentação de ser prefeito.

Um grande clarão, aos 41 anos, Múcio Ribeiro Dantas, advogado, político, filósofo, afirma que o advogado mais completo que conhece é Raimundo Nonato Fernandes e mais: Hélio Galvão, João Medeiros Filho, Emanuel Cavalcanti e Ivan Maciel. Nei Marinho aos 41 revela que se sente como quem já viveu 90 e afirma que o boêmio mais completo é Raimundo Cavalcanti.

Odilon Ribeiro Coutinho monta o seu secretariado como governador hipotético: Djalma Marinho, Clovis Mota, Gerôncio Queiroz, Roberto Furtado, Grimaldi Ribeiro, Calazans Fernandes, Raimundo Soares, Zila Mamede, Eudes Moura, Geraldo Melo, José Daniel Diniz, Alvamar Furtado e Ulisses Potiguar.

O desembargador Carlos Augusto Caldas da Silva, carioca, colega de quarto de Ary Barroso e Luiz Galloti que, segundo ele, estudava 32 hora por dia. Bem-humorado, conta a história de um processo-crime, que presidiu, em que um cabo e um sargento brigaram por conta de uma mulher. Ao indagar à mulher se o cabo lhe havia feito alguma proposta amorosa, ela respondera: Fez sim, mas eu indeferi.

Dom Nivaldo Monte ilumina o céu aos 49 anos, no seu depoimento em 1967. Admirador de Tristão de Athayde – Alceu de Amoroso Lima -, discorre sobre o seu irmão, o Padre Monte, um sábio e um santo, morto precocemnte de tuberculose e cuja obra foi resgatada por Jurandyr Navarro.

Na próxima semana falaremos mais sobre o imperdível livro de Sanderson.

 

Armando Negreiros – Médico e Escritor
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