Em apenas três semanas, mais pessoas foram internadas por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em São Paulo que em todo o ano de 2019, mostra levantamento feito com base em dados da Fiocruz.
Em todo o ano de 2019, foram registradas 9.701 internações por SRAG no estado de São Paulo, segundo o sistema de monitoramento Infogripe. Em 2020, 9.759 pessoas foram internadas somente entre 8 e 28 de março.
Desses casos, 1.727 foram confirmados como Covid-19 e 234 foram diagnosticados como outros vírus. Outros 963 testaram negativo, não testaram ou não tinham a informação. Outros 5.664 pacientes ainda aguardam o resultado dos exames.
O levantamento não considera a última semana disponível no sistema, de 29 de março a 4 de abril, porque a estimativa é menos precisa no período mais recente.
O InfoGripe leva em conta o que já foi inserido no sistema nacional do SUS e faz uma estimativa dos casos que ainda não entraram com base no histórico de cada local.
O número de internações começou a crescer rapidamente a partir do início de março. Na última semana de fevereiro, foram registradas 196 internações por SRAG em SP. De 1 a 7 de março, o número cresceu para 367. Na semana seguinte foram 1.430 casos.
Entre 15 e 21 de março, foram 3.772 casos. E, na semana seguinte, foram 4.557 internações por SRAG.
“Já estamos vivendo um impacto nos serviços de saúde e a tendência é que isso piore nas próximas semanas”, diz a pneumologista Patricia Canto Ribeiro, da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz.
“Porque não só a pandemia ainda não chegou no seu pico – e vai ter cada semana um aumento do número de casos – como também, com o avançar do tempo frio, vai ter um aumento das outras viroses.”
Ela explica que o novo coronavírus chega no momento em que o tempo começa a esfriar, e já há um aumento do número de internações por doenças respiratórias virais.
“Você tem o pior cenário. Somam-se as duas coisas: internações esperadas, vamos dizer assim, que ocorrem todos os anos, acrescidas de um número muito grande de internações não esperadas (de coronavírus), que é exatamente o que sobrecarrega os serviços de saúde.”
“Esse dado não me surpreende nada”, diz Jaques Sztajnbok, médico supervisor da UTI do Hospital Emílio Ribas. Ele afirma que a maior parte dos casos de Covid-19 ainda não foi confirmada e é registrada como SRAG.
“A gente está vivendo uma coexistência de dois picos epidemiológicos, influenza e Covid-19. A vacina da gripe foi adiantada, então esse surto a gente consegue prevenir e diminuir. O que me faz imaginar que o que está aparecendo mesmo é o coronavírus.”
O coordenador do Infogripe, Marcelo Gomes, ressalta que as unidades de saúde privadas que não informavam os casos ao sistema nacional passaram a informar, o que leva a um aumento do número de casos.
No entanto, afirma ele, esse número deveria mudar na primeira semana em que o sistema privado aderiu em massa à notificação, mas não nas seguintes.
“Como em geral a estimativa de pessoas atendidas por planos de saúde varia entre 30%-50% no país, isso por si só não parece ser suficiente para explicar a diferença tão grande observada no sistema, mesmo supondo que nenhum hospital da rede privada reportasse em anos anteriores e agora todos tenham aderido”, diz Gomes.
“Portanto, é razoável supor que esse aumento tão brusco, em tão pouco tempo, é devido justamente à natureza do novo coronavírus, que tem apresentado maior facilidade de propagação do que os vírus influenza e, até o momento, tem apresentado maior percentual de casos graves e óbitos.”
Fonte: G1
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