EMPREENDEDORISMO – 

Queria ser empreendedora. Abrir meu próprio negócio, algo com minha cara. Nada de sapatos, roupas ou bijuterias. Claro que pensei em comida, bolos caseiros, sobremesas leves. Ficou só no papel. Mesmo assim me questiono: não tenho perfil empreendedor? Não! Talvez até tivesse, mas ele foi destruído na infância. De quem é a culpa? Da mãe, lógico. Não é sempre assim?

Lembro de ainda pequena, 7 ou 8 anos, mamãe encher meu quarto de bonequinhos feitos de pedras pintadas e durepoxi. Foi uma febre aqui em Natal. Eu tinha todo o Sítio do Pica-pau Amarelo, obra literária que sou apaixonada desde sempre. Amava todos, do Rabicó à Emília. Então, em uma mudança de casa, alguns deles quebraram.

Conheci uma nova amiga, e, em meio às brincadeiras, abrimos uma lojinha. Comecei a vender as cabeças de pedra dos bonequinhos quebrados da coleção. A amiguinha comprou, apaixonada por aquelas cabeças sem corpos, vendo neles algo valioso e especial. Voltei para casa com dinheiro (algumas moedinhas), me sentindo rica e pensando no que mais poderia vender. Mamãe perguntou de onde veio o dinheiro e eu respondi feliz sobre a loja aberta na calçada de nossa casa. Ela me mandou devolver as ricas moedinhas e dar de presente as outras cabeças que minha coleguinha gostou.

Assim, nasceu a sensação de que dinheiro não é tudo (o que trago até hoje) e morreu o espírito empreendedor (não consigo vender água no deserto).
Valeu, mãe.

Não se preocupe, não fiquei com raiva. Até porque Deus me mostrou exatamente onde devo estar e isso me basta e me alegra. Mas não deixo de pensar se também destruí alguma coisa desse tipo nos meninos…

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Escritora

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