Sim, as conversas típicas de elevador fazem algum sentido. Está calor mesmo em Natal e, principalmente, o ano passou muito rápido. 2014 voou. Já esboça um adeus, ao passo que 2015 acena com um olá, logo ali. Foram muitos acontecimentos, mas faltou tempo para tanta coisa. Surpresas boas aconteceram, mas muito podia ter sido diferente.
Ano de tragédias imprevisíveis (ou não), perdas insubstituíveis, notícias que jamais se imaginou poder dar. Ano de lições preciosas, seguindo a pedagogia agridoce da vida, que oportunizarão conquistas mais sólidas, amparadas na necessidade real de evolução. Dessas que o desejo não tem a capacidade de sustentar.
O desejo é uma criança que não pára de chorar. Ainda está em desenvolvimento, não tem, portanto, acuidade para perceber o que é melhor para si e segue desejando, pulsando na superfície, até que tenha condições de mergulhar mais fundo, em direção à verdade própria. Desejo é apenas desejo e deve ser respeitado em sua “meninice”. Deve receber um sorriso alegre e ser acariciado por nós. Mas jamais pode guiar o caminho.
Já a verdade própria é o que faz a vida fazer sentido. A verdade é madura – mais que adulta. É serena, como um idoso que soube viver. Deve ser encarada, frente a frente, apesar das rugas e limitações. Deve ser olhada com os olhos da alma.
Dia após dia, mês após mês, vivemos 2014 equilibrando a criança sapeca e o sábio ancião e, ao final desse um período social estabelecido, é interessante analisar como foi nosso movimento. Se mais saltitamos com o desejo ou se mais nos sentamos ao lado da verdade, dispostas a ouvir suas histórias, tomando uma boa xícara de chá.
Ou se alternamos esses movimentos ao longo dos últimos 365 dias. Se surpreendentemente o velhinho sabido colocou o pequeno infante no colo e o embalou, compreendendo que não é proibido desejar. Ou se a criança surpreendentemente foi capaz de ceder, tomada por um sentimento profundo de organização interna, que só a maturidade é capaz de despertar.
Talvez 2014 não tenha sido, ou não venha sendo, tudo o que desejamos. Mas certamente foi como precisávamos que ele fosse. Como todos os anos. Como sempre.
Vicente Serejo – Jornalista e Escritor