ENSINAMENTO DA GRIPE ESPANHOLA PARA O BRASIL E O MUNDO – Luiz Serra

ENSINAMENTO DA GRIPE ESPANHOLA PARA O BRASIL E O MUNDO –

Em 1917, no Rio de Janeiro com 900 mil habitantes houve 15 mil mortos durante a tragédia pandêmica da Gripe Espanhola, a observar que à época nem medicamentos específicos antivirais nem penicilina existiam; agora em 2020, o Rio com 12 milhões de habitantes passa a computar sete mil e quinhentas mortes de Covid 19. No entanto o chamamento por competências de gestão e científicas é renovado e premente de soluções diante da crise sanitária.

O vírus foi detectado em um quartel em Kansas, nos EUA, propagou-se em meio à 1ª Grande Guerra, mantinha-se o segredo, propagou-se pelo mundo, o governo da Espanha neutra, em pânico pediu ajuda mundial, revelando o drama. Dessa forma tornou-se conhecida a calamitosa pandemia.

O Brasil teve 35 mil mortes pelo vírus pandêmico. Chegou aqui a bordo de um navio inglês Demerara, que, ao parar nos portos do Nordeste e do Rio, foi despejando pessoas infectadas, e a situação degringolou por completo. Durante a tragédia dos precários atendimentos, ocorreram três ondas de infecção, duas em 1918 e uma em 1919. Inclusive um presidente da República eleito, Rodrigues Alves, morreu antes de assumir, com o advento de falência pulmonar e renal, resultando fulminante enfarte.

No Rio de Janeiro, então capital da República, enquanto havia o surto de casos fatais um enorme pânico se instalava. Eram insuficientes os leitos e os atendimentos nos hospitais públicos. Daí nasceu a urgência pela criação da primeira Rede de saúde Pública. Enquanto isso multiplicavam-se os remédios caseiros alegavam-se curas dramáticas, inclusive médicos se promoviam com base no sucesso de seus procedimentos e medicações conhecidas combinadas. A tão esperada vacina somente foi aplicada em 1944, ou seja, 26 anos após a pandemia, e, curiosamente, adveio durante a 2ª Grande Guerra.

Alastrou-se na ideia do povo que doses generosas de cachaça adicionando-se mel e sumo de limão fazia regredir a gravidade dos sintomas, chegou-se ao ponto de sugerirem pingar duas gotas de creolina Oswaldina em líquido como preventivo. A curva de infecções decaiu finalmente, dado o excedente do número de pessoas autoimunes. Restou no tempo que a conhecida caipirinha veio dessa época em meio ao desespero pela cura.

De aprendizado, a mesma política de contenção pelo isolamento, controle de sintomas virais e, principalmente, de higiene, bem mais precárias naquele tempo. O potencial da ciência médica hoje é incomparável e o desafio está sendo amplamente enfrentado, nas esferas da farmacêutica e na busca vacinal. Seguramente os resultados chegarão ao público em bem menos tempo do que há cem anos com a tragédia da Gripe Espanhola.

 

Luiz SerraProfessor e escritor
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