A Policia Federal (PF) iniciou ontem a Operação Carne Fraca, que investiga o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos. Alguns dos principais grupos do setor do País estão na mira da operação, como o BRF (que detém as marcas Sadia, Perdigão, Batavo e Elegê) e o JBS (Seara, Swift, Friboi e Vigor). Também há envolvimento, segundo a PF, de frigoríficos menores, como Mastercarnes, Souza Ramos e Peccin, do Paraná, e Larissa, que tem unidades no Paraná e em São Paulo.A Receita Federal informou que trabalha em conjunto com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal na Operação, deflagrada para desarticular organização criminosa no âmbito do Ministério da Agricultura a partir da Superintendência Federal da Agricultura no Paraná. O esquema envolve fiscais do Ministério na liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos. Executivos das duas maiores empresas foram presos na operação.

Segundo a Receita, além dos 309 mandados expedidos pelo Juízo Federal da 14ª Vara Federal de Curitiba, foram cumpridos mais de 190 mandados de busca e apreensão em empresas e residências dos principais envolvidos, nas cidades de Curitiba, Londrina, Maringá, Foz do Iguaçu, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Goiânia. De acordo com as investigações, o esquema criminoso seria liderado por servidores ocupantes de cargos de chefia e administração da Superintendência do Ministério da Agricultura no Paraná que, com apoio e participação de outros servidores a eles subordinados, estariam recebendo vantagens indevidas, pagas por executivos ou diretores de empresas. Fiscais agropecuários que não aceitavam compactuar com as irregularidades investigadas eram afastados de seus locais de trabalho, removidos ou exonerados de suas funções. Vários dos servidores públicos investigados, além de ocultar ativos adquiridos, tiveram acréscimo patrimonial desproporcional em suas declarações de bens.

A Justiça Federal do Paraná determinou o bloqueio de R$ 1 bilhão das empresas investigadas. Segundo a PF, a Carne Fraca é, em números, a maior operação já realizada pela corporação no País. Cerca de 1.100 policiais federais cumpriram 309 mandados judiciais em sete estados – 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão nas casas e escritórios dos investigados e em empresas que fariam parte do esquema.Em quase dois anos de investigação foi descoberto que as superintendências regionais do Mapa nos estados do Paraná, Minas Gerais e Goiás atuavam diretamente para proteger os grupos empresariais, em detrimento do interesse da coletividade. Há cerca de 40 pessoas jurídicas envolvidas no esquema que incluía venda de produtos vencidos com a embalagem modificada.

A operação Carne Fraca encontrou uma série de irregularidades na fabricação e comercialização de proteínas. Algumas das empresas investigadas usavam ácido e outros elementos químicos, muitos deles cancerígenos, bem acima do permitido por lei, para maquiar o aspecto físico de alimento vencidos e estragados. Também foi encontrada carne processada, em que na verdade não havia proteína animal e sim, soja. A Polícia Federal citou ainda casos de Salmonella – bactéria que causa infecção em humanos e pode ser transmitida por alimentos. Neste casos, fiscais do governo federal recebiam propina para liberar a comercialização do produto contaminado. Também foram encontrados contêineres com alimento contaminado, com destino à exportação para Europa.

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