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Enterobacter cloacae: bactéria que infectou 15 pacientes em mutirão no RN é comum no intestino

Enterobacter cloacae: bactéria causadora de infecção em 15 pacientes após mutirão de cirurgias no RN é encontrada no intestino — Foto: Adobe Stock

As infecções que atingiram pacientes em um mutirão de cirurgia de catarata em Parelhas (RN) são extremamente raras e graves, de acordo com médicos ouvidos pelo g1. Os pacientes apresentaram sintomas de endoftalmite, infecção no interior do olho causada por bactéria e que geralmente leva a perda de visão.

O mutirão aconteceu em 27 e 28 de setembro na Maternidade Dr. Graciliano Lordão. Das 15 pessoas que apresentaram sintomas de endoftalmite, oito precisaram retirar o globo ocular afetado.

Qual é a bactéria causadora e onde é encontrada

Enterobacter cloacae – bactéria responsável pelas infecções – comumente é encontrada no trato intestinal das pessoas e contribui para a regulação do funcionamento, de acordo com o infectologista Natanael Adiwardana, do Hospital São Luiz Itaim, da Rede D’Or.

Como a bactéria pode ser transmitida e o que que pode causar?

Caso a Enterobacter cloacae saia do trânsito intestinal e atinja outros órgãos, pode gerar inflamação e infecções de diversas formas. Ela pode ser transmitida também por mãos infectadas durante traumas em superfícies machucadas com feridas abertas, como na pele ou no próprio olho.

Esta bactéria pode causar uma série de infecções, como: urinárias, respiratórias, sanguíneas, endocardite (infecção no coração), pneumonias associadas a ventilação, diverticulites, apendicites e infecções em diversos outros órgãos através de uma lesão no intestino. No olho, assim como outras bactérias, pode gerar doenças graves, como a endoftalmite.

Como evitar a bactéria?

A prevenção de infecções por Enterobacter cloacae é feita primeiramente pela boa higiene de mãos e assepsia rigorosa do profissional de saúde e dos equipamentos utilizados em todos os momentos próximos e durante o ato da cirurgia.

“A higiene das mãos reduz muito qualquer complicação infecciosa, principalmente em ambientes de assistência à saúde. O uso de dispositivos invasivos como sonda vesical e cateter venoso pelo tempo mínimo necessário durante a assistência hospitalar também contribui para reduzir o risco de infecções”, acrescenta o infectologista Adiwardana.

 

Além da lavagem de mãos, os rigorosos protocolos para uma cirurgia segura incluem o uso de equipamentos de proteção individual – como luvas estéreis, máscaras, toucas, aventais por toda a equipe cirúrgica – e de equipamento cirúrgico esterilizado por autoclave ou outro método de esterilização eficiente, entre outros cuidados, segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Oswaldo F. Moura Brasil.

“Quando a gente fala em cirurgia, a gente fala também do ambiente controlado. O centro cirúrgico deve ser limpo de forma rigorosa e são necessários determinados controles de temperatura de umidade de ar. Então, todas essas coisas contribuem para que não haja este tipo de contaminação e é sempre importante lembrar também da questão pós-operatória, de que tem que haver uma orientação para higiene”, complementa Brasil.

O professor de infectologia do Hospital São Paulo da Unifesp, Carlos Kiffer, destaca ainda que cirurgias de cataratas são de baixo risco e normalmente não levam a infecções deste tipo.

“Quando isso acontece, a gente suspeita de alguma quebra no procedimento de cirurgia segura. Qualquer bactéria que aparece após um procedimento cirúrgico é um problema”, explica Kiffer.

O uso racional de antibióticos, somente quando são necessários, também diminui a chance de desenvolver infecções por bactérias dessa espécie que sejam mais difíceis de tratar (resistentes aos medicamentos).

Casos de endoftalmite por Enterobacter cloacae já foram descritos em revistas científicas. Alguns foram causados por situações de trauma contra o olho, por doenças oculares que levaram à maior predisposição a ter infecção ocular, e após procedimentos cirúrgicos oculares.

“Nós todos somos portadores da bactéria Enterobacter cloacae. A questão é como a bactéria chegou ali. Ela foi transmitida de alguma forma. A gente suspeita que tenha sido uma fonte comum uma vez que foram 15 casos ao mesmo tempo após um mesmo procedimento. A contaminação provavelmente ocorreu durante ou após o ato cirúrgico – eventualmente até durante o período de realização de curativos, por exemplo”, afirma o professor Kiffer.

Entenda o caso

Uma investigação da Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap) apontou que a infecção bacteriana que atingiu os 15 pacientes no mutirão de cirurgias tem indícios de ter sido causada por contaminação em procedimentos como higienização e esterilização.

A avaliação foi divulgada pela coordenadora de Vigilância em Saúde do RN, Diana Rêgo, nesta quarta-feira (16), após uma inspeção realizada pela equipe na cidade.

Os problemas de procedimento, segundo Diana Rêgo, apontados na investigação são relacionados à esterilização de equipamentos e higienização dos profissionais e do ambiente, por exemplo.

A empresa Oculare Oftalmologia Avançada, responsável pelas cirurgias, afirmou que o mutirão foi conduzido por “oftalmologista experiente, tendo seguido os protocolos médicos e de segurança exigidos”.

A investigação tem sido conduzida pelas vigilâncias sanitárias municipal, estadual e nacional. Além de uma avaliação da secreção ocular dos infectados, o Laboratório Central de Saúde Pública do RN (Lacen) também começou a fazer uma análise da potabilidade da água da maternidade onde ocorreu o mutirão.

Segundo Diana Rêgo, a Vigilância Sanitária de Pernambuco também foi acionada para auxiliar na apuração sobre a empresa contratada para realizar o mutirão, que é registrada no estado. Segundo ela, a Sesap não recebeu todas as informações necessárias.

prefeitura de Parelhas também instaurou um inquérito para investigar as circunstâncias e responsabilidades no caso. As audiências com técnicos, médicos e a empresa responsável pelos procedimentos foram iniciadas nesta terça-feira (15).

Além da assistência médica, o município disse que tem mantido suporte psicológico, monitoramento contínuo e cobertura de tratamento e consultas.

Segundo o município, cerca de 330 procedimentos do mesmo tipo foram realizados desde maio de 2022, antes do mutirão de setembro. “Apenas nesse tivemos complicações”, declarou o secretário de Saúde do município Tiago Tibério dos Santos.

Fonte: G1RN

Ponto de Vista

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