ENTRE CORES –
Penso diversas vezes em quais profissões poderia ter seguido. Ou ainda seguirei, quem sabe? Talvez faça um curso de psicologia! Ou gastronomia! Ou… Vejo tantas profissões surgindo e penso em quantas ainda surgirão. Diferentes, inusitadas, criativas.
Preciso usar minha criatividade! Com mil canetinhas e lápis diversos vou pintando meus livros antiestresse que de antiestresse não têm nada! Quando pinto fora da linha fico“xatiada” e lembro de minha tia, tia Nauri, uma pintora exemplar. Temos algumas telas dela aqui em casa e penso se ela errava no traçado do pincel também. Um de seus quadros que decora nosso lar é o perfil de uma mulher, em diferentes tons de azul. Olho insistentemente procurando algo que eu ainda não tenha percebido nele. O olhar. O cabelo. O delicado nariz. Deixo a tela delicada de lado. Volto os olhos para meus lápis e afins, perdida em pensamentos.
Flávio deu-me uma coleção de lápis Faber Castell de 60 cores e tenho o cuidado em recolocar cada lápis de volta ao seu cantinho, na posição correta da caixa, pois acho lindo todos nos seus devidos lugares. Recordo meus estojos da época da escola: de madeira, com doze lápis, uma borracha, um grafite, uma caneta azul e outra vermelha, uma régua. Era suficiente!
Como passamos de 12 para 60 lápis? Como surgiram diferentes azuis, verdes, marrons e rosas?
Como, às vezes, em meio a 60 lápis, não acho a cor ideal para pintar aquele leão que insiste em me encarar de sua página meio branca meio pintada no meu livro antiestresse superestressante?
Minha mente se volta para esmaltes e tintas. Precisamos escolher as cores das paredes, pois pintaremos o apartamento. Com uma paciência de Jó, eu e Flavinho olhamos um aplicativo de cores e testamos diversas combinações. Pena de ganso com azaleia. Cesta de vime com bronze envelhecido.
Quem é a pessoa por trás disso?
Quem?
Quem olha para um frasco de esmalte e diz:
– Este será chamado de “Não sou esta Coca-Cola toda”!
Ou ainda, na paleta de cores da Coral:
– Esta deve se chamar “Malemolência”!
Não sei, mas acredito que este trabalho deve acontecer em um ambiente extremamente divertido, recheado de boas risadas e com pessoas de bem com a vida. Se souberem de alguma vaga, avisem-me, por favor. Tenho algumas ideias já reservadas para batizar frascos de esmalte, galões de tintas e lápis de cor…
Enquanto não sou contratada, faço as pontas dos meus lápis com cuidado para ficarem bem fininhas e volto a olhar o quadro de tia Nauri, pensando:
– Já temos uma artista na família e não precisamos de mais uma! Posso pintar meu leão sem me preocupar em errar… Porque, aliás, já errei bastante nele… Mesmo assim, não é que ficou bonito?
Talvez, a perfeição nos agrade, mas nossas imperfeições também são capazes de colorir o mundo!
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora