ENTRE MUDAS E FLORES –

Nessa dança constante da vida, somos diariamente confrontados com a dualidade do efêmero e do permanente. As flores, em sua exuberância e lindeza, encantam os olhos por um breve instante, mas, logo se entregam à decomposição, ou seja, logo estarão em estado de putrefação, pois, a água do vaso, aquela que foi belamente alojada no vaso para manter as flores e assim garantir mais um pouco de tempo de vida, adornando a casa, logo começará a mudar de cor, o cheiro, que antes eram de flores perfumando o ambiente, agora tornar-se-ão cheiro desagradável (ou seja, serão simplesmente catinga, ou como queiram).

Elas nos remetem da fragilidade da beleza a inevitabilidade do fim. Cada pétala que cai é um lembrete de que tudo tem seu tempo, uma continuidade que nos remete ao mero acaso de um início, meio e fim. Uma lição sobre a transitoriedade da existência. Por outro lado, as mudas, aquelas que regamos dia após dia, nos falam de esperança e renovação. Elas são o símbolo da continuidade, do cuidado que nos nutre e nos transforma e fortalece, que nos remete a vida. pensem, ao regar uma muda copiosamente, calmamente, estamos cultivando não apenas a planta, mas também a nossa paciência, quiçá, a nossa resiliência.

O ato, fato, de observar suas folhas brotando, vivendo, é um testemunho silencioso de que a vida se renova constantemente, e que bom que estamos em constante renovação. Cada galho que se estende em busca da luz é uma afirmação de que o crescimento é possível mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras, mais brutais. A angústia que sentimos, que eu sinto, ao ver flores murchando é um convite para refletir sobre o nosso próprio ciclo, daquilo que está por vir. De pronto, assim como as flores, nós também passamos por momentos de esplendor, riqueza e glórias, bem como, de tristezas.

Mas, assim como as mudas germinam e prosperam com o cuidado apropriado, nós também podemos cultivar nossas experiências para que floresçam em sabedoria e vitória. A vida, na verdade, é um ciclo infinito de crescimento e transformação e, também, renovação. Bom, quando abraçamos as mudas — essas promessas do amanhã, das expectativas que criamos — quando aprendemos a valorizar não apenas os momentos de alegria, mas também as lições que emergem das dificuldades, dos momentos de aprendizados, entendemos que a morte das flores não é um fim; é apenas uma parte do processo maior que nos ensina sobre a beleza da renovação.

Assim, ao olharmos para o mundo ao nosso redor, podemos entender que ao escolher entre as flores e as mudas: entre o efêmero dos buquês e a eternidade das mudas, que possamos sempre optar por nutrir o que cresce e transforma, reconhecendo que cada ciclo traz consigo uma nova oportunidade de renascer, reviver e refazer toda a nossa trajetória.

 

 

 

Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora dos livros As Esquinas da minha Existência e As Flávias que Habitam em Mim, crô[email protected]

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *