ENTRE O NOME E O NÚMERO –

                                                                                               No meio do caminho tinha uma pedra
                                                                                                                              Tinha uma pedra no meio do caminho

                                                                                                                                       (Carlos Drummond de Andrade)

Lembrei deste poema de Drummond. Com uma leitura diferente me vi pensando: havia um nome por trás daquele número! Cresci lendo e relendo O Pequeno Príncipe. A cada leitura algo me chamava mais atenção ou entendia de outra forma. Queria crescer, ser adulta, mas ao lê-lo parecia-me que ser adulta não seria tão bom assim. Eu me ligaria aos números. Qual sua idade? Qual seu peso? Qual seu salário? Os números, por mais que sejam importantes, não podem nos representar. Mais tarde me vi às voltas com eles. Foi importante decorar CPF, RG, conta bancária, número de matrícula. Quantos números me cercam? Tenho DOIS filhos. Fiz SETE cirurgias. Corri CINCO quilômetros. Seremos reflexo destes números? Não consigo acreditar nisso…

Um pouco antes da nossa quarentena eu estava ministrando aula e uma aluna me perguntou porque as pessoas não ficavam em casa conforme orientação. Eu respondi-lhe: não ficam em casa porque por enquanto as mortes são números e não nomes. Quando deixarmos de ouvir que faleceram hoje 15 ou 150, mas sim, Antônio ou Maria, e lembrarmos que são nossos vizinhos, conhecidos, amigos, parentes… daremos mais importância a tudo isso.

Hoje assistindo aos noticiários pensei mais uma vez nisso. Somos números, refletidos numa estatística, formando uma curva. Formamos um gráfico para os infectados, um para as faixas etárias, outro para os Estados, outro para os óbitos. Refletindo números…

Como seria se no lugar deles tivéssemos os nomes? Faleceram hoje 15 Antônios, 17 Marias e 1 Ana. E se tivéssemos fotos? E, ainda, se contássemos sua história? “Esta senhora (de 87 anos) casou (aos 18 anos) cheia de sonhos. Aprendeu a costurar e assim formou seus (7) filhos. Hoje tinha contato não só com seus (27) netos, mas também com seus (8) bisnetos. Todos sentem a dor de sua ausência e compreendem que precisamos nos unir contra este inimigo que nos amedronta.”

Porque por trás daquele nome havia amor. Em qualquer vida, em qualquer história. O amor da vida de alguém!

Por isso, mesmo que esteja sendo BARRA passar por tudo isso por mais de cem (100!) dias vendo sonhos desfeitos e planos paralisados, vamos passar, sim, unidos àqueles que mais amamos.

Havia um nome por trás daquele número.

Por trás daquele número havia amor…

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Professora universitária

 

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