ENVELHECER –
“Os Justos florescerão como palmeira, crescerão como o cedro do Líbano: plantados na Casa do SENHOR, florescerão nos átrios do nosso Deus. Mesmo na velhice, cheios de seiva e viço produzirão muitos frutos”
(Salmo 92, vs. 12, 13 e 14 – Versão King James).
Dia após dia, ano após ano, vamos caminhando rumo à velhice…
A marcha do progresso humano se revela em inteligência de escol, gênios revolucionários inventando o radar, a televisão, a propulsão a jato – mas ainda não inventou ou ninguém tem sabido deter o avanço dos passos imperceptíveis da velhice. Fala-se de fontes da juventude eterna, transplantam-se glândulas de símios para sustar a decrepitude senil – tudo em vão!
A verdade é que muitos sentem-se como que tomados de secreto pavor e autocomiseração quando pensam na inevitável perda do seu vigor e beleza física passada, diante da decadência ou duma aposentadoria compulsória, na lenta agonia dos prazeres e passatempos de outrora.
O poeta inglês Roberto Browning escreveu: “Envelheça comigo; o melhor da vida está para chegar… A parte última para a qual foi feita a primeira!”. O poeta brasileiro Olavo Bilac descreve em sua poesia “A velhice”, uma velha rabugenta, queixosa, azeda, melancólica que, quando um netinho se aproxima e começar a fazer-lhe uma pergunta atrás da outra, tipo: “Por que não tem dentes… por que anda rezando a sós… por que tem cabelos brancos… e por que anda sempre tristonha?”. E a velhinha responde: “Eu tenho vivido tanto que estou farta de viver! Os anos que vão passando vão nos matando sem dó… O teu sorriso, criança, cai sobre os martírios meus…”.
O que fazer diante velhice? Entendo que existem algumas dimensões ou planos históricos na velhice sã, serena e produtiva, por exemplo ATENDER AOS ACONTECIMENTOS DO PRESENTE e PROJETAR-SE IMAGINATIVAMENTE NO FUTURO. Deve o idoso não se limitar ao estreito marco ambiental direto e se interessar em todo o âmbito da Humanidade, não adotando uma atitude meramente passiva ou contemplativa, e sim colaborando para mitigar penas a quem sofre e, acima de tudo, evitar as que se podem prever, inclusive as próprias. Uma outra dimensão é sonhar acordado, estimulado pela intuição e freado pela lógica, enquanto se pode criar, retificar ou aperfeiçoar a obra duradoura que o faça sobreviver e justifique a confiança, a amizade, o carinho e o auxílio que até aquele momento recebeu de alguns semelhantes.
A verdade é que pode haver muita produção na velhice. A história está repleta de homens e mulheres que alcançarem o seu maior triunfo e sucesso no último quartel da vida. Tintoretto, o pintor, produziu a tela PARAÍSO, a maior tela a óleo existente no mundo aos 74 anos; Giuseppe Verdi, o compositor italiano produziu a famosa ópera Otelo, também aos 74 anos. Lamarch, o zoologista francês, com 78 anos terminou a sua monumental obre em 7 volumes: “A História Natural dos Invertebrados”. A monumental obra da Goethe “Fausto”, foi completada na velhice. Com 73 anos, Immanuel Kant, escreveu três de suas obras, sendo uma delas a “Metafísica da Ética”. Alfred Tennyson, com 80 anos, escreveu uma das suas mais belas obras poéticas: “Crossing the Bar”. Tiziano Vecelli, com 90 anos pintou o quadro histórico “A Alegoria da Batalha de Lepanto”.
Para se chegar nesse ponto impõe-se uma atitude inteligente e sadia, o que não se alcança sem muito esforço e perseverança. Desde jovem, é necessário que nos armemos contra desapontamentos, frustrações, derrotas e toda a espécie de atitudes negativas.
Assim, na medida em que os anos avançam, mostremos crescente interesse na vida, em vez de nos retrair desiludidos e magoados; sejamos cada vez mais espontâneos em manifestarmos os nossos sentimentos. Tornemo-nos mais indiferentes às críticas do mundo e mais isentos de suspeitas; procuremos alcançar crescente consciência do nosso verdadeiro valor pessoal, dada a variedade e riquezas das nossas experiências e atividades. Acima de tudo, fechemos as portas a todo e qualquer espírito de cinismo, mantendo sempre robusta a nossa fé em Deus e nos grandes destinos da humanidade.
Envelheceremos? Por certo, e inevitavelmente. Mas o mais importante é que sejamos sempre serenos e bondosos, alegres e positivos, inspirando outros com a nossa coragem e otimismo. Destarte, seremos sempre benvindos em casa de nossos amigos, parentes e filhos.
E, se o poeta brasileiro Olavo Bilac, nos pintou o retrato duma velhinha triste e queixosa, deixou-nos também, em sua poesia “Velhas Árvores”, a visão inspiradora daquilo que o perpassar dos anos pode trazer igualmente; felicidade na velhice.
“Não choremos, amigos, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem”.
Josoniel Fonseca – Aadvogado, professor universitário, membro da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte – ALEJURN, [email protected]