ENVELHECER –
Dia após dia, ano após ano, vamos caminhando rumo à velhice…
A marcha do progresso humano se revela em inteligências de escol, gênios revolucionários inventando o radar, a televisão, a propulsão a jato — mas ainda não se inventou ou ninguém tem sabido deter o avanço dos passos imperceptíveis da velhice. Fala-se de fontes da juventude eterna, transplantam-se glândulas de símios para sustar a decrepitude senil — tudo em vão!
A verdade é que muitos sentem-se como que tomados de secreto pavor e autocomiseração quando pensam na inevitável perda do seu vigor e beleza física passada, diante da decadência ou duma aposentadoria compulsória, na lenta agonia dos prazeres e passatempos de outrora.
O poeta inglês Robert Browning, escreveu: “Envelheça comigo; o melhor da vida está para chegar. A parte última para a qual foi feita a primeira”. O poeta brasileiro Olavo Bilac descreve em sua poesia “A Velhice”, uma velha rabugenta, queixosa, azeda, melancólica que, quando um netinho se aproxima e começa a fazer uma pergunta atrás da outra: “por que não tem dentes… por que anda rezando a sós… por que tem cabelos brancos… e por que anda sempre tristonha? ”. E a velhinha responde: “Eu tenho vivido tanto que estou farta de viver! Os anos que vão passando vão nos matando sem dó… O teu sorriso, criança, cai sobre os martírios meus…”.
Mas, indagamos: O que fazer diante da velhice? O filósofo e ensaísta espanhol Ortega Y Gasset, indica um roteiro no seu livro “A Arte de Envelhecer”, que nos imerge em três dimensões, três planos históricos de uma velhice sã, serena e produtiva:
I – REVER A VIDA PASSADA – Extraindo proveitosas deduções e difundido na medida do possível, para evitar a outras pessoas erros e faltas.
II – ATENDER AOS ACONTECIMENTOS DO PRESENTE – Não se limitando ao estreito marco ambiental direto, e sim interessando-se em todo o âmbito da Humanidade, não adotando atitude meramente passiva ou contemplativa, e sim colaborando para mitigar penas a quem sofre e acima de tudo, evitar as que se podem prever.
III – PROJETAR-SE IMAGINATIVAMENTE NO FUTURO – Sonhar acordados estimulados pela intuição e freados pela lógica, enquanto ainda se pode criar, retificar ou aperfeiçoar a obra duradoura que à pessoa sobreviva e justifique a confiança, a amizade, o carinho e o auxílio que até o momento foi recebido de alguns dos semelhantes.
A verdade é que podemos produzir na velhice. A história está repleta de homens e mulheres que alcançaram o seu maior triunfo e sucesso no último quartel da vida: TINTORETRTO – pintou aos 74 anos a tela PARAÍSO, a maior tela a óleo existente no mundo; GIUSEPPE VERDI – aos 74 anos produziu a famosa ópera OTELO; LAMARCK, o zoologista francês, com 78 anos terminou a sua monumental obra em 7 volumes, A HISTÓRIA NATURAL DOS INVERTEBRADOS; GOETHE completou a grande obra FAUSTO, já bem velho; EMMANUEL KANT – com 73 anos escreveu três obras, sendo uma delas a METAFÍSICA DA ÉTICA; ALFRED TENNYSON, com 80 anos escreveu uma das mais belas obras poéticas, a obra CROSSING THE BAR e TIZIANO, com mais de 90 anos, pintou o quadro histórico A BATALHA DE LEPANTO.
À luz desses exemplos dignificantes, concluímos que uma atitude inteligente e sadia não se alcança sem esforço e perseverança. Desde jovem, é necessário que nos armemos contra desapontamentos, frustrações, derrotas e toda a espécie de atitudes negativas. Assim, na medida em que os anos avançam, devemos mostrar crescente interesse na vida, em vez de nos retrair desiludidos e magoados; sejamos cada vez mais espontâneos em manifestarmos os nossos sentimentos. Tornemo-nos mais indiferentes às críticas do mundo e mais isentos de suspeitas; procuremos alcançar crescente consciência do nosso verdadeiro valor pessoal, dada a variedade e riqueza das nossas experiências e atividades. Acima de tudo, fechemos as portas a todo e qualquer espírito de cinismo, mantendo sempre robusta a nossa fé em Deus e nos grandes destinos da humanidade.
Envelheceremos? Por certo, e inevitavelmente! Mas o mais importante é que sejamos sempre seremos e bondosos, alegres e positivos, inspirando outros com a nossa coragem e otimismo. Destarte, seremos sempre benvindos em casa de nossos amigos, parentes e filhos.
Como sugere o poeta, envelheçamos rindo, envelheçamos como as grandes árvores envelhecem, na glória da alegria e da bondade, agasalhando os pássaros nos seus ramos, dando sombra e consolo aos que padecem.
Josoniel Fônseca – Advogado, professor e membro da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte-ALEJURN
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