A escadaria de Mãe Luiza, em Natal, está com novo visual, graças ao talento de artistas potiguares que deixaram o local repaginado com a arte do grafite. Essa manifestação artística que surgiu na década de 1970 reflete a realidade das ruas e tem o objetivo de ocupar “espaços brancos” com reflexões e histórias de um povo.
O movimento está se tornando cada vez mais comum entre as ruas da capital potiguar, essa intervenção em Mãe Luiza foi feita através de um projeto da Secretaria de Cultura de Natal, que já contemplou oito pontos públicos de Natal, entre eles o Beco da Lama, Praia de Miami e o Espaço Cultural Ruy Pereira.
“Desde o Beco da Lama, nós vimos a possibilidade de ocupar outros espaços públicos de Natal com a arte do grafite. Esse espaço era um local que a gente sempre almejou, já que é é muito explorado entre os moradores e turistas”, disse Miguel Carcará, artista plástico e coordenador do projeto.
O projetou contemplou 24 grafiteiros que se expressaram através de imagens que retratam questões sociais e referenciam as principais características do bairro.
“Demos uma liberdade artística para os participantes do projeto para que eles criassem as artes dentro do seu próprio estilo. Fizemos uma alusão à comunidade, tem desenho de mães, pescadores e ambulantes”, explicou Carcará.
A representatividade feminina também está pintada nos muros da escadaria. A grafiteira Clívina deixou o painel marcado com a figura de uma mulher cheia de atitude.
“Fiz uma menina que representa bem as mulheres da periferia. É importante mostrar que nós mulheres estamos conquistando espaço na arte. Nada melhor do que deixar isso registrado no muro do bairro onde fui criada. Comecei a fazer grafite através de um projeto social e hoje me orgulho de passar por aqui e me ver representada”, disse Clívina.
Aceitação
O grafite reflete a realidade das ruas e prova que esse movimento que já foi marginalizado muda não só o visual do espaço, mas o sentido do que é a arte. É um assunto que ainda gera polêmica. Inclusive, este trabalho na escadaria foi criticado recentemente por um ex-prefeito da capital, o que proporcionou discussões sobre a ocupação desse movimento na cidade.
Apesar disso, Miguel Carcará acredita que esse projeto, que já contemplou outros espaços públicos de Natal, abriu a mente dos natalenses. “A aceitação do público atualmente chega até uns 90%. As pessoas nos tratam super bem e mostram o respeito pelo nosso trabalho. É uma arte que vem dialogando com o Brasil inteiro, com diversas comunidades, e o tema vem sendo inserido inclusive na escola”.
Além de se tornar um espaço com um importante contexto sócio-cultural, a escadaria ainda se tornou um verdadeiro mural artístico, garantindo belíssimas fotos aos visitantes. “Vim me exercitar e contemplei esse lindo trabalho, que se completou com a beleza natural da região”, afirmou a advogada Clarisse Revoredo.
E nada melhor do que a aprovação dos próprios moradores. Ana Patrícia mora em Mãe Luiza há 40 anos e ficou ainda mais orgulhosa do bairro. “Está muito diferente. Ficou uma maravilha. Meu neto já tirou várias fotos por aqui. Eu valorizei muito o que fizeram aqui. Esse projeto também deveria contemplar outros locais de Mãe Luiza e até mais bairros. Nós temos muitos artistas por aqui, eles devem ser reconhecidos”, contou Ana.
Fonte: G1RN