Escola de samba e blog com informações favoráveis ao PT foram alguns dos meios usados pelo ex-tesoureiro do partido Paulo Ferreira obter propinas de contratos da Petrobras. A informação é do Ministério Público. Nesta segunda-feira (4/7), a Polícia Federal deflagrou a 31ª fase da Operação Lava-Jato, apelidada de “Abismo”, quando foi ordenada a prisão preventiva do ex-dirigente da legenda – que já estava detido há mais de 10 dias por ordem do juiz da Operação Custo Brasil, Paulo Bueno de Azevedo. Os 35 mandados de busca e apreensão, prisão preventiva, prisões temporárias (por cinco dias) e de conduções coercitiva atingem também grandes empreiteiras e seus sócios.
Segundo o Ministério Público, um total de R$ 39 milhões foi obtido em propinas em três contratos na estatal a partir de 2007. A sede da Petrobras em Vitória (ES), o Centro Integrado de Processamento de Dados (CIPD) e o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), no Rio de Janeiro. As apurações se basearam em documentos e transferências de dinheiro obtidos a partir da colaboração premiada de executivos da empreiteira Carioca Engenharia e do ex-vereador do PT em Americana (SP) Alexandre Romano. No Cenpes, a propina era de 2% para o partido e para o ex-diretor de Engenharia Renato Duque, segundo contou o ex-gerente de Engenharia da petroleira Pedro Barusco.
O ex-vereador disse que usou empresas dele – Oliveira Romano Sociedade de Advogados, Link Consultoria Empresarial e Avant Investimentos e Participação Ltda – para obter mais de R$ 1 milhão das construtoras do Consórcio Novo Cenpes, que ganharam licitação para as obras do centro de pesquisa. O dinheiro entregue por Alexandre Romano foi recebido com ajuda de contratos simulados e repassados a pessoas e empresa ligadas a Paulo Ferreira, segundo o Ministério Público, “inclusive em favor dele próprio, familiares, blog com matérias que lhe são favoráveis e escola de samba”.
O consórcio Cenpes era formado pelas empreiteiras OAS, Carioca Engenharia, Construbase Engenharia, Schahin Engenharia e Construcap CCPS Engenharia. Elas ganhariam a licitação conforme um acerto prévio, típico de cartel, de acordo com os delatores. Mas a empresa WTorre Engenharia e Construção S/A não participou do acerto e apresentou um preço menor para fazer as obras. Com base nesse “imprevisto”, as firma do consórcio acertaram pagar R$ 18 milhões à WTorre para que ela deixasse a licitação e permitisse ao novo Cenpes abocanhar a obra, narra o Ministério Público Federal do Paraná. Assim, o consórcio ficou com a obra, no valor de R$ 849,9 milhões em 2008.
O procurador Júlio Noronha, integrante da força-tarefa da Lava-Jato, destacou que que o fato de haver corrupção privada “causa maior indignação”. “Envolve uma corrupção privada refletindo a um contrato público”, justificou. “A corrupção se alastrou ao setor privado. No âmbito publico, é uma corrupção privada para fraudar a licitação.” De 2007 e a 2012, foram pagos também R$ 20 milhões e mais US$ 711 mil em propinas, inclusive para operadores já identificados nas Operações “Saqueador” e Custo Brasil. Foram R$ 16 milhões transferidos para o doleiro Adir Assad, alvo da Saqueador e que cumpre ordem de prisão no Rio de Janeiro, e R$ 3 milhões para os contadores Roberto Trombeta e Rodrigo Morales, além de US$ 711 mil para o lobista Mário Goes e R$ 1 milhão para Romano. Os valores obtidos por Mário Goes foram depositados por executivos Carioca Engenharia.